Notícia

Todo Dia (Americana, SP)

A PROPÓSITO DE - Divulgação técnica (1 notícias)

Publicado em 15 de fevereiro de 2004

Por MICHAEL PAUL ZEITLIN
Há poucos dias, este jornal, publicou interessante artigo de Hélio Augusto de Magalhães, jornalista da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). O autor traz interessante assunto para discussão, qual seja, o da divulgação científica e tecnológica. A primeira consideração que faz é que "nem todos assuntos podem se transformar em artigos e matérias de jornal". Uma das razões é a espionagem econômica feita pelos países desenvolvidos. Uma segunda dificuldade na divulgação do avanço científico, segundo o autor pode ser resumida como a barreira da linguagem, como traduzir da linguagem do cientista para a linguagem coloquial do leigo. Apesar destas dificuldades há que se mostrar à sociedade o valor da pesquisa científica e tecnológica e buscar apoio na população e na sociedade organizada para o financiamento destas atividades que afetam nossa vida. Intimamente relacionado a este assunto a Revista Pesquisa, editada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), em sua edição de janeiro passado, traz como artigo de capa a "percepção pública da ciência em países ibero americanos". Relatando resultado de pesquisa realizada na Argentina, no Brasil, na Espanha e no Uruguai pode-se constatar que, com pequenas diferenças a população vê a ciência como "melhoria da vida humana", "avanço técnico" e "grandes descobertas". A grande maioria das pessoas ouvidas considera-se "pouco informada" ou "nada informada" sobre ciência e tecnologia. Afirmam raramente consumir informação científica em televisão, jornais ou revistas especializadas. Outro resultado interessante é que há uma confiança muito grande por parte do público nos cientistas como fonte de informação enquanto os jornalistas gozam, neste campo, de credibilidade extremamente escassa. A população coloca os cientistas em quinto lugar entre os profissionais que mais contribuem para o desenvolvimento do país, depois de agricultores, industriais, professores e médicos. Outro aspecto digno de nota é que, a população não toma a ciência como panacéia universal, 82,7% dos entrevistados no Brasil discorda da afirmação de que a ciência e a tecnologia podem resolver todos os problemas. Em outro artigo, a mesma revista publica entrevista com Otávio Frias Filho, diretor da Folha de São Paulo, maior jornal do País. Da entrevista escolhi algumas respostas que falam diretamente ao tema que estou abordando. "A Folha, tem tradição na cobertura de ciência. O jornal teve a sorte, ao meu ver, de nos anos 1950 e no começo dos 60 ter tido José Reis como responsável pela redação. Ele exerceu uma enorme influência, seja no ambiente científico brasileiro, seja no sentido de constituir no Brasil esse gênero jornalístico. Procuramos sempre manter o jornal à altura dessa tradição inaugurada por José Reis, que foi além de um jornalista muito respeitado, um pesquisador de méritos, sobretudo no começo de sua carreira. De uma forma mais geral, tenho a impressão de que em nossos dias o interesse jornalístico pela ciência tem aumentado e só tenderá a aumentar". Em outro ponto de sua entrevista, Otávio Frias Filho faz um histórico do peso relativo dos diversos tipos de noticiário. Se na década de 1950 o noticiário político, com detalhes longos predominava, já na década de 60 o jornalismo cultural cresceu muito e na década de 70 o jornalismo econômico cresceu aparecendo pela primeira vez os grandes especialistas neste gênero. Hoje em dia, nas palavras do entrevistado, a política e a economia têm perdido espaço para outros gêneros e a ciência deverá crescer no jornalismo dado o crescente interesse da população. Pessoalmente, tenho utilizado este espaço que o TodoDia me concede para discutir questões técnicas, particularmente de administração e mais especialmente ainda na área de Políticas Públicas, que acho é o que interessa ao munícipe, mais voltado para o seu dia a dia e a qualidade de vida de sua família e, menos para questões de política partidária a nível nacional. Michael Paul Zeftlbi é engenheiro civil possui mestrado e doutorado pela Universidade de Stanford e é professor titular da EAESP-FGV; escreve aos domingos. E-mail: zeitlin@fgvsp.br