Renato Janine Ribeiro, professor de Ética e Filosofia Política da USP, é candidato a presidente da SBPC nas eleições em curso e escreveu este texto para o 'JC e-mail':
Os corredores se difundiram no século XVII. Antes, numa casa, para se chegar a um cômodo geralmente era preciso passar por dentro dos outros. Não havia intimidade.
Quando se dissemina o corredor, torna-se possível especializar os cômodos. Não se entra mais no quarto do outro sem alguma autorização. Assim nascem os corredores.
Já a praça... Falo de um tipo de praça, a ágora, que se pode traduzir, do grego, para significar a praça de decisões, o lugar onde as pessoas se reúnem para escolher os caminhos coletivos.
Vernant, no seu livro 'Nascimento do pensamento grego', conta como as decisões deixaram de ser tomadas dentro dos palácios, às escondidas, pelos reis - como sucedia nos tempos de Homero - e passaram a ser adotadas em público, na praça, "to mésson", diz ele, isto é, no meio de todos. É o começo da política. É o começo da democracia.
Por que falar nisso? Porque deveríamos, na política universitária, diminuir o peso dos corredores e aumentar o da praça.
Não simpatizo com a conversa ou a opinião dos corredores. Ela tende a ser furtiva. Ela não dá razões públicas. Ela tem mais a ver com a intriga e mesmo a difamação do que com a construção de uma opinião pública.
O que nós procuramos, durante toda a campanha pela Diretoria da SBPC, foi dizer coisas que se publiquem. Quando levantamos, eu e outros candidatos que me apóiam, questões difíceis, sempre o fizemos com um arrazoado.
A questão mais delicada que suscitei, a da filiação em massa de sócios de um mesmo perfil, eu a tratei dizendo que não fazia acusações pessoais.
Mas ela era importante, e não podia passar sem esclarecimento, porque distinguia duas maneiras de conceber o quadro societário - e portanto a questão do poder e da transparência - dentro da SBPC.
Recentemente, soube pela editora do Boletim dos alunos da Faculdade de Filosofia da USP que um aluno da pós-graduação de minha Faculdade criticava minha candidatura. Ela lhe franqueou as páginas do Boletim, para que se expressasse, como se deve fazer. Mas ele não quis fazê-lo.
Eis um exemplo do que está errado na vida acadêmica. As pessoas falam mal, mas não têm a coragem de vir a público sustentar o que dizem.
Covardia? Não é só isso. Não é uma questão apenas pessoal. É que, quando você fala ao público, você precisa aprimorar seu discurso.
No Brasil, infelizmente, é comum criticar um projeto não em seus termos, mas nos da maledicência. Corrupção é uma acusação comum.
Conforme a família política, o outro lado pode ser acusado de neoliberal ou de comunista. Mas com isso se perde o plano próprio das idéias. Quem faz isso se rebaixa.
Não visto nenhuma carapuça. Nunca fui acusado de corrupção. Mas o problema é o princípio. A falta de hábito de discutir em termos públicos vicia. Daí que as críticas se façam tortas. É com isso que temos de acabar.
O que pretendemos não é apenas ganhar as eleições na SBPC. Disse, desde o começo, que somos ambiciosos. O que queremos é contribuir de maneira decisiva para se construir um espaço público de debate em nosso país.
Pessoalmente, prefiro eleições como a nossa às que são propriamente políticas. Nas nossas, não devemos excluir quem perder. Decide-se uma liderança, não uma exclusão.
Mas o lado ruim disso é quando não se abre a boca. É quando todos dizem generalidades - e remetem a decisão sobre em quem votar para a "rádio corredor".
É quando entra a maledicência, a acusação sem contradita. E, por incrível que pareça, é também quando entra a lista de apoios, se ela vier substituir a discussão.
Vocês podem entender, então, por que eu - que me orgulho muito do apoio que recebi de Marco Antonio Raupp, que retirou a candidatura a presidente para me dar seu voto, e de três presidentes de honra da SBPC, Warwick Kerr, Crodowaldo Pavan e Sergio Ferreira - não quis substituir o debate de idéias pela listagem de assinaturas.
E é por isso que tenho dito: nossa campanha já é um modo de gestão. Usaremos intensivamente a Internet. Procuraremos que as divergências, de qualquer ordem que sejam, possam ser ditas de público.
Isso ao mesmo tempo legitima a discordância e a torna administrável. Em vez de o conflito gangrenar as relações, ele pode oxigená-las.
Convido quem concordar com estas propostas a votar em mim, para presidente, em Carlos Vogt e Jailson de Andrade, para vice-presidentes (dois cargos), em Regina Markus para secretária geral, em Ana Maria Fernandes e Vera Val para dois cargos de secretária, em Aldo Malavasi para 1º tesoureiro e em Humberto Brandi para 2º tesoureiro.
(Mais textos em http://www.janine-na-sbpc.com.br).
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