O novo presidente dos Estados Unidos, Barack Hussein Obama, introduzirá, ao que tudo indica, numerosas modificações nas problemáticas e controvertidas políticas seguidas até agora pelo presidente Bush, e que vão desde o envolvimento nas guerras do Oriente Médio até a política econômica.
Entre elas figura, com destaque, a política energética seguida por aquele país que é responsável pelo consumo de 25% de toda a energia consumida no mundo, apesar de ter apenas 5% da população mundial. Mais ainda, cerca de 80% desta energia se originam em combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) tornando-o o maior emissor mundial de ‘gases de efeito estufa’ (responsáveis pelo aquecimento da Terra) e mudanças climáticas.
O extraordinário progresso material dos Estados Unidos baseia-se no consumo destes combustíveis, cuja comercialização movimenta cerca de dois trilhões de dólares por ano. Os extravagantes padrões de consumo dos EUA exigem um consumo de energia per capita (predominantemente fóssil) que é o dobro do consumo na Europa e cinco vezes maior do que na maioria dos países em desenvolvimento. Os interesses econômicos que se formaram em torno deste comércio são imensos e vão desde a indústria do carvão e a produção de eletricidade para produzi-lo até o petróleo e a indústria automobilística.
Não é surpreendente, portanto, que qualquer tentativa de reduzir o consumo de combustíveis fósseis encontre tanta resistência nos Estados Unidos, mesmo que o bom senso indique que isto deveria ser feito. Desde os tempos do presidente Nixon, portanto há mais de 30 anos, que uma das metas do governo americano – nunca alcançada – é a de atingir a “independência energética”, reduzindo a importação de petróleo uma vez que mais da metade dele vem do Oriente Médio, o que explica, aliás, em parte, a forte presença militar dos EUA naquela região e os gastos daí decorrentes.
Por causa de sua extrema dependência do consumo de combustíveis fósseis o governo dos Estados Unidos não aderiu ao Protocolo de Kyoto, cuja finalidade era a de levar à redução dos gases de efeito estufa. As emissões americanas, em lugar de serem reduzidas como ocorreu em vários países da Europa, aumentaram muito desde 1990.
A política energética do governo Bush em relação ao Protocolo de Kyoto foi sistematicamente uma política hostil, mobilizando até funcionários públicos capazes de alterar documentos oriundos de laboratórios científicos do próprio governo para minimizar os riscos decorrentes, alertando em relação às consequências do aquecimento global. Na prática, a política do governo Bush era apenas a de estimular o desenvolvimento de tecnologias que permitissem que se continuasse a usar combustíveis sólidos, tornando-os porém “mais limpos” como, por exemplo, capturando o carbono emitido nas chaminés das usinas que geram eletricidade com carvão e armazenando-o em cavernas profundas. Outra opção do governo Bush foi a de tentar – sem sucesso até agora – reativar a indústria nuclear americana, paralisada desde 1985.
A atenção dedicada ao uso de fontes renováveis de energia foi pequena, apesar de não emitirem carbono e serem produzidas localmente – o que contribui para a independência energética – exceto em alguns estados
como Texas. O novo governo americano deve mudar substancialmente estas políticas como indica a nomeação do novo secretário de Energia (correspondente ao nosso ministro de Minas e Energia), dr. Steven Chu, Prêmio Nobel de Física e professor da Universidade da Califórnia.
As ideias do presidente Obama sobre energia foram expressas com clareza na cerimônia em que anunciou a escolha do novo secretário. Ao agradecer a indicação, Chu repetiu suas opiniões já bem conhecidas e publicadas há mais de um ano. Que opiniões são estas?
Em primeiro lugar reduzir o consumo de energia sem abrir mão dos serviços que a energia oferece, isto é, usar energia de forma mais eficiente. Isto não é apenas possível como foi feito com sucesso na Califórnia desde 1980, quando a grande maioria dos equipamentos não pode ter um consumo de energia maior do que o fixado pelo governo do Estado.
Em segundo lugar, aumentando a produção das energias renováveis já bem desenvolvidas como a energia eólica (ventos), energia solar transformada em eletricidade, aquecimento de água para usos domésticos e industriais ou geração de eletricidade e, mais significativamente, o uso de biomassa. O aperfeiçoamento das tecnologias utilizadas hoje para o uso de biomassa (incluindo modificações genéticas) oferece grandes perspectivas. Esta é uma área em que o Brasil está muito avançado – em particular com os programas de pesquisa financiados pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) – na produção de etanol (e eletricidade) com cana-de-açúcar. As possibilidades de cooperação dos Estados Unidos com o Brasil nesta área são muito boas.
Em terceiro lugar, estimulando o desenvolvimento de novas tecnologias até torná-las competitivas no mercado. Se implementadas, estas políticas permitirão aos Estados Unidos reduzir suas emissões de carbono (e outros poluentes), diminuir suas importações de petróleo e eventualmente exportar tecnologias “limpas”. Elas fazem, portanto, mais sentido que as políticas – ou ausência de políticas – adotadas até agora no governo Bush.