Colaboração internacional liderada pelo Brasil pretende analisar o céu do Hemisfério Sul com a ajuda do público. Imagens são obtidas em observatório chileno
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Céu noturno na Serra da Mantiqueira
O S-PLUS (Southern Photometric Local Universe Survey) é um grupo de colaboração internacional que pretende mapear o céu do Hemisfério Sul. Ao todo, espera-se mapear 9.300 graus quadrados do espaço.
O projeto foi fundado pelo IAG/USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo) – onde está sediado –, pelo Observatório Nacional, pela UFS (Universidade Federal de Sergipe) e pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Também há contribuições práticas e financeiras de outras instituições brasileiras, do Chile e da Espanha.
Com o tamanho da missão dos pesquisadores, o S-PLUS lançou, em outubro, o Science Hunter, uma plataforma de ciência cidadã que pretende ajudar a treinar um algoritmo a identificar objetos astronômicos. O público recebe imagens escaneadas do espaço e deve selecionar se existem asteroides, galáxias, objetos verdes – que indicam a presença de hidrogênios alfa, utilizados para o estudo da composição de estrelas e nebulosas – ou objetos exóticos.
19%
é a porcentagem concluída de imagens do céu com objetos astronômicos identificados pelo público até 8 de janeiro
A plataforma de ciência cidadã
Não é preciso ter conhecimento prévio em astronomia para fazer parte do projeto. Os usuários devem entrar no site do Science Hunters e escolher se desejam fazer uma verificação rápida ou detalhada do céu.
Em ambos os casos, um tutorial é disponibilizado (em inglês, português e espanhol) com as informações de como os objetos astronômicos são identificados nas fotografias. Um asteroide, por exemplo, é representado por um rastro luminoso colorido, enquanto uma galáxia é larga e dispersa. Nas fotos, há também a presença de centenas de estrelas.
Na verificação rápida, o usuário deve apenas selecionar se há algum objeto astronômico presente na fotografia. Já na detalhada, ele deve marcar onde estão localizados os objetos e o que eles são.
FOTO: Reprodução/Science HuntersExemplo de céu escaneado na plataforma
Exemplo de céu escaneado na plataforma
Até quarta-feira (8), mais de 864 mil objetos astronômicos foram classificados pelo público. Carlos Eduardo Ferreira Lopes, pesquisador do IAG/USP, afirmou à Agência FAPESP na terça (7) que as classificações populares terão importante papel científico.
“Serão utilizadas para a construção de modelos de aprendizado automático machine learning que nos ajudarão a identificar objetos astronômicos de interesse”, disse o astrônomo.
O telescópio
O S-PLUS pretende mapear o céu do Hemisfério Sul a partir de um telescópio de 86 centímetros de diâmetro localizado no Observatório Interamericano de Cerro Tololo, no Chile. O telescópio T80 é brasileiro se diferencia pela quantidade de filtros fotométricos disponíveis – 12 no total, o que o torna capaz de identificar parâmetros como a temperatura e a caracterização química das estrelas.
As imagens analisadas pelo projeto foram registradas entre 2016 e 2020. Em maio de 2021, o S-PLUS divulgou um estudo mostrando ter encontrado uma das mais antigas estrelas da história, com idade estimada entre 10 e 12 bilhões de anos.
Segundo o estudo, a estrela batizada de SPLUS J2104-0049 deve pertencer à segunda geração após a explosão do Big Bang. Ela é uma estrela ultrapobre em metais – característica de astros muito antigos –, mas conta com a menor quantidade de carbono em sua superfície desse tipo de objeto astronômico.
A vigência atual da pesquisa, apoiada pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), irá até janeiro de 2027.
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