Não é por acaso que poucos produtos genuinamente brasileiros figuram entre as inovações tidas como revolucionárias pelas empresas. A cultura da parceria tecnológica, de investimentos pesados em pesquisa e desenvolvimento, de contratação de cientistas para trabalhar em laboratórios dentro das empresas, praticamente inexistiu no País até muito pouco tempo atrás.
Esse cenário começa a mudar. Com a abertura econômica, a inovação tecnológica deixou de ser luxo para se tornar essencial. "As empresas estão começando a procurar os pesquisadores", afirma o pró-reitor de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), Hernan Chaimovich.
O Brasil atualmente colabora com pouco mais de 1% da produção científica mundial. É claramente um número ainda pequeno. Mas, há quinze anos, ele não passava de 0,4%. A colaboração brasileira cresceu, portanto, 2,5 vezes mais que a média internacional, lembra José Fernando Perez, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Essa produção ainda concentra-se fortemente no meio acadêmico. Somente 11% das pesquisas são feitas dentro do ambiente empresarial no Brasil, contra cerca de 80% nos Estados Unidos e 50% na Coréia. A Coréia que, como o Brasil, é responsável por 1% da produção científica mundial, tinha, em contrapartida, 1,6 mil patentes depositadas nos Estados Unidos em 1998. O Brasil, no mesmo ano, só entrou com 50. "É uma quantidade ridícula", afirma Perez.
"Existe uma dificuldade de se transformar conhecimento em patente. Não faz parte de nossa cultura", afirma o diretor da Fapesp. E não são somente as empresas que não colaboram para isso. Os cientistas brasileiros não têm coragem de abandonar a universidade para montar sua própria empresa, algo que quase todo americano sonha em fazer, diz Perez.
Um dado que ilustra a mudança que vem ocorrendo é o aumento da procura pelos programas da Fapesp que estimulam a produção científica que tenha como objetivo a fabricação de produtos comerciais. Em dois anos, o programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe), foi procurado por 250 interessados, dos quais 96 foram aprovados.
O rumo da pesquisa tecnológica no Brasil daqui para a frente vai depender muito da direção que o próprio País tomar. "A ciência não opera fora do tempo e da geografia, em parte nenhuma do mundo", afirma Chaimovich.
"O modo como nossa contribuição para a ciência vai mudar depende de como o Brasil vai encarar seu futuro". Não custa lembrar que foi justamente a cultura de colaboração direta entre pesquisadores e empresas que transformou países como Estados Unidos e Japão em líderes econômicos neste último século.
Notícia
Gazeta Mercantil