A Votorantim Ventures, administradora de um fundo de US$ 300 milhões, tem um dos principais programas de investimento de capital de risco em pesquisa tecnológica do País. Até agora, seus esforços estavam concentrados em projetos de tecnologia da informação. Com a contratação do bioquímico Fernando Reinach, um dos coordenadores do Projeto Genoma Brasileiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a Votorantim Ventures reorienta sua estratégia e volta a maior parte de suas atenções para a biotecnologia. Além disso, abre um importante canal de comunicação com as universidades, com o objetivo de transformar pesquisa científica de ponta em projetos empresariais viáveis.
O Grupo Votorantim sempre esteve centrado em ramos tradicionais, como a indústria de cimento, papel e mineração. Sua nova iniciativa reforça a idéia de que a biotecnologia é um negócio promissor no Brasil. Reinach acaba de assumir o cargo de diretor executivo na Votorantim Ventures e já analisa dez propostas nas áreas de pesquisa de genômica, biodiversidade e fármacos. Ainda no primeiro trimestre de 2002, o fundo deve eleger seu primeiro projeto para investimento. Os US$ 300 milhões disponibilizados pelo Grupo Votorantim para o fundo equivalem ao orçamento anual da Fapesp. A escola do Projeto Genoma, cujos resultados foram o seqüenciamento da Xylella fastidiosa e da Xanthomonas citri, bactérias causadoras do amarelinho e do cancro cítrico, contribuiu para a formação de boa mão-de-obra na em biotecnologia no Brasil. Mas, segundo Reinach, a integração dos investidores com a universidade é limitada e não existe estrutura de negócios capaz de viabilizar os novos projetos. "O nosso primeiro trabalho é explicar como funciona o capital de risco", diz. "Nós sempre compramos participação nas empresas em que investimos e não fazemos investimentos a fundo perdido". O modo de atuação da Votorantim Ventures, criada em meados do ano passado, inclui, por exemplo, o acompanhamento permanente da empresa de pesquisa e a eventual nomeação de um executivo financeiro para o empreendimento.
Os fundos de capital de risco focados na pesquisa científica surgiram nos Estados Unidos logo depois da Segunda Guerra mundial. No Brasil, eles começaram a aparecer no final dos anos 90 e ainda não fazem parte da rotina dos pesquisadores. Ainda existe um estranhamento entre empresas e universidades no País. A idéia de investir no trabalho de uma equipe de cientistas e obter como resultado, por exemplo, um produto farmacêutico eficaz, com chances comerciais e atraente para laboratórios multinacionais ou nacionais não soa natural nessa parte do mundo. Os fundos de capital de risco podem fazer a ponte entre os pesquisadores e o mercado.
Segundo o presidente da Votorantim Ventures, Paulo Henrique de Oliveira Santos, o que caracteriza um bom projeto é a qualidade da equipe que irá executá-lo e uma boa perspectiva de negócios. A combinação de bons times com projetos viáveis é difícil de ser encontrada. Nas suas estimativas, de cada dez projetos um vai vingar e garantir os lucros que sustentarão a vitalidade do fundo. Dos outros nove, dois talvez se paguem. Os demais nem chegam ao mercado. A Votorantim Ventures investe em empresas já existentes com bons projetos ou cria empresas de tecnologia a partir de boas idéias. Com seus US$ 300 milhões, o fundo espera participar como controlador ou sócio investidor, nos próximos anos, de 40 a 50 empresas de pesquisa, a maior parte da área de biotecnologia. É a qualidade do projeto que vai determinar o valor do investimento, segundo Santos. A rentabilidade desse tipo de investimento é colhida no médio e longo prazo. Mas basta um produto de grande sucesso para transformar um fundo de capital de risco em um dos negócios mais lucrativos do sistema. Uma patente farmacêutica inovadora chega a render, por ano, mais de US$ 1 bilhão.
Os principais clientes da pesquisa de biotecnologia são os laboratórios farmacêuticos e a indústria de defensivos agrícolas e sementes. Caso os investimentos agora iniciados produzam patentes com potencial de negócios, os laboratórios nacionais terão, pela primeira vez, a oportunidade de deixar de depender de cópias de medicamentos e adquirir tecnologia avançada e exclusiva.
O PROJETO DO RIO BRAVO
A pesquisa de genômica é o alvo principal dos fundos de investimento de capital de risco orientados para a biotecnologia. É o caso da Votorantim Ventures e também da Rio Bravo, administradora do fundo Investech.
Em janeiro, a Rio Bravo vai assumir o investimento em um empresa paulista que desenvolve uma tecnologia inovadora a partir do conhecimento adquirido durante os esforços de seqüenciamento da Xylella fastidiosa. O nome da empresa não é divulgado, mas cerca de US$ 1 milhão deve ser destinado ao projeto.
"A vocação brasileira é realizar pesquisa de genômica relacionada à atividade agrícola", afirma Paulo Bilyk, diretor da Rio Bravo. "O problema é transformar essa pesquisa em empreendimentos exeqüíveis". Há um ano, a Rio Bravo dedica-se a identificar bons projetos em universidades e centros de pesquisa no País. Bilyk diz que encontrou quatro projetos viáveis e apenas dois deles foram assumidos pelo Investech.
O fundo, concebido para financiar o desenvolvimento de empresas emergentes de base tecnológico, dispõe hoje de cerca de R$ 15 milhões, mas está aberto a novos aportes. Os executivos da Rio Bravo buscam oportunidades em empresas de biotecnologia com pesquisa de medicamentos, mas também voltadas para o desenvolvimento de softwares, novas tecnologias de diagnóstico e equipamentos de precisão. (V.V.)
Notícia
Gazeta Mercantil