"Eppur si muove" (Mas ela se move) é a frase atribuída a Galileu Galilei (1564—1642), que a teria murmurado após rejeitar publicamente, diante de um tribunal da Inquisição em Roma, em 1633, a sua convicção de que a Terra gira em torno do Sol. A frase inspira esta seção de GALILEU sobre os problemas atuais da ciência brasileira
Criticar os governos parece uma atitude "natural". E necessária, principalmente para quem vive deste lado da linha do Equador, onde os investimentos públicos tradicionalmente deixam a desejar. A pesquisa científica e tecnológica é uma área em que os governos federal e estaduais têm sido merecidamente criticados no Brasil. O problema é que os hábitos tendem a adquirir vida própria, e, o que é pior, muitas vezes obstruem o discernimento e impedem as pessoas e até as instituições a compreender situações novas e nelas detectar oportunidades.
Nos últimos anos, surgiram importantes projetos de pesquisa com fórmulas criativas para atrair a atenção e investimentos de empresas privadas. Um dos exemplos mais significativos é o da parceria de instituições que realizará o seqüenciamento genético do eucalipto, árvore utilizada na indústria de papel e celulose. O projeto está orçado em US$ 6 milhões. Metade virá de um consórcio de quatro empresas do setor: Votorantim, Ripasa, Duratex e Suzano. A outra metade será custeada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
TENDÊNCIA CRESCENTE
O caminho está sendo aberto também para buscar recursos privados para financiamento praticamente integral de projetos. O exemplo mais significativo é o da criação da Votorantim Ventures, que pretende destinar um capital de risco de US$ 300 milhões para pesquisas na área de biotecnologia.
Essa é uma tendência crescente e de inequívoco sucesso, segundo o físico José Fernando Perez, diretor científico da Fapesp. Ele, no entanto, admite que ainda há muitos centros de pesquisa com grande potencial para atrair recursos, mas que não conseguiram transcender sua rotina acadêmica.
Nessa nova perspectiva, é preciso que as instituições de pesquisa aprendam a detectar oportunidades de investimentos, sem perder de vista sua função social. O engenheiro Fernando Peregrino, diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), citando o antropólogo Darcy Ribeiro, lembra que em torno de universidades rurais e de escolas agrícolas brasileiras existem muitas comunidades que vivem na extrema miséria e na fome. Elas devem, portanto, direcionar parte de suas prioridades para o mundo que as cerca, inclusive de perto.
É preciso porém que os novos rumos não sirvam de pretexto para os governos abrirem mão de sua responsabilidade. As principais universidades dos Estados Unidos, a terra do capitalismo, são particulares, cobram mensalidades, recebem polpudas doações de ex-alunos que se tornaram milionários e desenvolvem projetos que atraem investimentos privados. Mas elas não conseguem manter a pesquisa sem a ajuda de recursos federais.
PEQUENAS EMPRESAS BUSCAM ALTA CAPACITAÇÃO
Nem só de investimentos de grandes empresas vivem as parcerias dos centros de pesquisa. Desde 1998, cerca de 200 projetos de inovação tecnológica de pequenas empresas foram aprovados pela Fapesp. A fundação financia até R$ 375 mil para cada empresa candidata. Os números apontam um surpreendente interesse de pequenas empresas em contar com serviços de laboratórios e de cientistas de alta capacitação técnica. Já começaram a aparecer os produtos que foram aperfeiçoados com a tecnologia dessas empresas, como conversores de sinal de TV a cabo, aparelhos de análise química de bebidas e alimentos e outros. Também vêm sendo obtidos processos industriais mais econômicos e ecológicos.
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