O laboratório de arqueologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) está trabalhando para resgatar a memória das vítimas da ditadura no Departamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). A missão deles é conectar a comunidade ao redor do centro de tortura com a história que reside nele.
A Frente Tripla do Trabalho no Edifício
O trabalho no edifício é dividido em três frentes:
1. Escavação
2. Investigação forense
3. Arqueologia pública
A última frente é liderada pela equipe da Professora Aline Carvalho, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Unicamp (NEPAM).
A Ponte entre Cientistas e a Comunidade
Os pesquisadores da Unicamp têm a missão de construir uma ponte entre os cientistas e a comunidade ao redor do centro de tortura.
> ‘As comunidades são detentoras de saberes. Então, no caso do DOI-Codi, as pessoas moram no bairro há décadas, inclusive quando ele funcionava neste edifício. Quando você faz essa ponte, a gente consegue outras informações que vão nos ajudar a entender essa materialidade’, destaca a professora Carvalho.
A Busca por Lembranças e Conexões
O trabalho de arqueologia pública vai além do bairro de Vila Mariana, onde o centro de tortura estava instalado. A busca por lembranças e conexões também se estende às comunidades municipal, estadual e nacional.
‘Garimpo’ de Memórias
De acordo com Carvalho, este ‘garimpo’ de memórias começou muito antes das escavações. Em colaboração com o Memorial da Resistência, pesquisadores da Unicamp começaram em 2020 a coleta de depoimentos de sobreviventes e parentes de vítimas da ditadura.
O Processamento e Conservação dos Itens Encontrados
Todo o material inorgânico encontrado durante as escavações será encaminhado ao Laboratório de Arqueologia Pública (LAP/Unicamp). O laboratório será responsável pelo processamento e conservação dos itens até que o local destinado ao memorial seja finalizado.
As Visitações ao DOI-Codi
Os interessados em acompanhar o trabalho dos escavadores podem realizar visitas guiadas ao DOI-Codi das 10h às 11h, de segunda a sexta-feira, com agendamento prévio.
A Equipe de Trabalho
Além da Unicamp, o Grupo de Trabalho (GT) DOI-Codi é formado por arqueólogos e historiadores de outras nove instituições, incluindo a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O DOI-Codi
O DOI-Codi foi um órgão clandestino criado em 1969 e incorporado ao Exército no ano seguinte. Com sede na Zona Sul de São Paulo, ele foi um dos centros de tortura, assassinato e desaparecimento forçado mais atuantes do país.
Estima-se que mais de 7 mil opositores da ditadura tenham sido torturados nas dependências do órgão durante seu período de atuação, até o início da década de 1980. O trabalho dos pesquisadores da Unicamp é crucial para preservar a memória dessas vítimas e garantir que a verdade sobre o DOI-Codi seja conhecida.