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O Estado do Paraná

A matemática das brisas à beira-mar (1 notícias)

Publicado em 22 de junho de 2008

Agência Fapesp –  Por meio de simulações numéricas, pesquisadores da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na Paraíba, e da Universidade de São Paulo (USP) testaram uma nova teoria termodinâmica para estudo das brisas – ventos próximos à superfície terrestre. O estudo, publicado na Revista Brasileira e Meteorologia, mostra que as circulações de brisa se formam pela diferença de entropia (grandeza que mede o grau de desordem de um sistema) entre duas regiões com características distintas, mas sua intensidade é influenciada também por outros fatores, como a presença de montanhas que, no período noturno, por ocasião da brisa terrestre, tendem a limitar sua intensidade.

O objetivo da pesquisa era testar uma teoria termodinâmica das brisas marítimas-terrestres acopladas com brisas de vale-montanha utilizando simulações numéricas tridimencionais e topografia realística. Essa teoria de diferença de pressão, formulada pelo professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, Enio Pereira de Souza, um dos autores do artigo, possibilita verificar fatores que podem influenciar nas características dessas circulações de vento, como intensidade e profundidade.

De acordo com a co-autora Clênia Rodrigues Alcântara, da unidade Acadêmica de Ciências Atmosféricas da UFCG, a compreensão da dinâmica das brisas é fundamental, uma vez que ela afeta direta ou indiretamente a vida de milhões de pessoas. “As brisas são circulações que interagem diretamente com centros urbanos, influenciando a dispersão de poluentes e alterando o clima local. Elas podem, além disso, interagir com outros fenômenos atmosféricos e contribuir para sua amplificação, com formação de tempestades, por exemplo”, diz.

De acordo com a pesquisadora, a utilização de modelos numéricos da atmosfera para estudar fenômenos meteorológicos como as brisas permite um melhor detalhamento espacial e temporal dos dados. “Há estudos desse tipo de circulação com dados provenientes de observações feitas com instrumentos meteorológicos. Mas é bastante difícil e caro obter conjuntos de dados que contenham informações colhidas com freqüência com menos de uma hora e com resolução espacial que permita verificar a presença da brisa. Para isso seria preciso instalar vários conjuntos de instrumentos em uma área pequena”, afirma Clênia.

Outra dificuldade, segundo ela, é que os erros são inerentes aos instrumentos meteorológicos, assim como o próprio ato de leitura dos dados. No caso das simulações numéricas, esse tipo de imprecisão não existe.

Os testes foram realizados em João Pessoa, levando em conta a tipografia local. A teoria desenvolvida por Souza, destaca Clênia, funciona como uma ferramenta que pode ajudar a entender um pouco mais sobre as brisas, “Com ela se tem a possibilidade de verificar a intensidade dessas circulações a partir de informações mais elementares, como temperatura à superfície. A teoria é baseada na Segunda Lei da Termodinâmica e usa o conceito de entropia para explicar como a energia é disponibilizada para gerar a brisa.”