Uma missão ítalo-brasileira na Jordânia pode ajudar a reescrever os livros de História em todo o mundo. Ao examinar um sítio arqueológico no Vale do Rio Zarka, norte do país, cientistas descobriram ferramentas de pedra lascada com cerca de 2,4 milhões de anos.
Sabe o que isso significa? Que ancestrais humanos estiveram no Oriente Médio muito antes do que se imaginava. Esses artefatos são os mais antigos encontrados fora da África. Atualmente, considera-se que os primeiros hominídeos teriam saído do continente originário há 1,9 milhão de anos.
Essa descoberta aconteceu quando a equipe encontrou seixos soterrados com vestígios de intervenção humana. Segundo um dos pesquisadores do departamento de Antropologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que integra a missão, há diferenças entre o que as forças físicas da natureza podem criar e as modificações feitas intencionalmente pelos primatas. Para ele, pedras afiadas, recorrência de bordas em sedimentos lascados e constâncias na sequência de lascamento são três desses indícios humanos.
Além de mostrar que o ser humano resolveu explorar o restante do planeta muito antes do imaginado, a descoberta muda também a identidade dos pioneiros a deixar a África. Assim, como 2,4 milhões de anos atrás apenas o Homo habilis estava disponível no continente africano, cai por terra a ideia de que esses primeiros desbravadores eram o Homo erectus.
Não é exagero dizer que essa descoberta muda a história evolutiva dos humanos no planeta já que ela retroce a história em 500 mil anos. Além disso, a pesquisa ajuda a esclarecer outras inconsistências na historiografia evolutiva. Uma delas é a dúvida acerca da existência de cinco diferentes crânios encontrados na Geórgia, alguns parecidos com o Homo habilis e outros, com o Homo erectus. Isso sugere que ao invés de se confirmar que diferentes gêneros conviveram na região na mesma época, é possível deduzir que essa diversidade se trata de uma transição entre as duas espécies, ao longo de muitos milênios.
A pesquisa em questão, que foi realizada entre 2013 e 2015, foi majoritariamente financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pela Wenner-Gren Foundation for Anthropological Research, sediada em Nova York.