Notícia

Guia de Educação a Distância

A Força das públicas

Publicado em 01 novembro 2006

A educação a distância (EAD) vem ganhando força dentro das universidades públicas brasileiras. Antes associada ao ensino profissionalizante, a EAD agora é vista por especialistas como grande aliada no processo de democratização da educação, na capacitação de professores e no apoio ao ensino presencial. Universidades públicas investem na área e lançam cursos de graduação e pós-graduação a distância. E as iniciativas vão além; de norte a sul do Brasil, instituições públicas se reúnem em consórcios e parcerias para pesquisar novas tecnologias e ferramentas de apoio ao ensino a distância.


Em São Paulo, uma das instituições públicas pioneiras no ensino on-line é a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), antiga Escola Paulista de Medicina. "Já em 1995, utilizávamos material de apoio on-line", informa a professora e coordenadora do Laboratório de Educação a Distância da Unifesp (LED), Mônica Parente Ramos. "Em 1997, lançamos o primeiro curso de especialização on-line", recorda.


O LED desenvolve pesquisas na área de EAD, promovendo a integração de novas tecnologias aos materiais didáticos utilizados nos cursos da universidade.


Hoje, a Unifesp oferece uma série de cursos de especialização e de extensão a distância, baseados na web. "Em alguns casos, utilizamos ainda o apoio de outros recursos, como material impresso, CD-ROM e webconferências", conta Mônica. "As metodologias de EAD também são utilizadas como material de apoio aos cursos presenciais de graduação", afirma a professora.
A expectativa da universidade, segundo Mônica, é oferecer futuramente cursos de graduação a distância. "Algumas disciplinas da graduação já são totalmente on-line", afirma. "Um exemplo é Técnica Operatória e Cirúrgica Experimental, disciplina oferecida no terceiro ano do curso de Medicina", ilustra.

Novas tecnologias


A Universidade de São Paulo (USP) prepara a abertura do primeiro curso de graduação a distância, O curso de Licenciatura em Ciências, com 60 vagas, está em processo de aprovação e a expectativa é que esteja disponível no vestibular da Fuvest, em 2007 ou 2008. Os formandos poderão atuar como professores de 1ª a 4ª série do ensino fundamental.


Uma das plataformas utilizadas no novo curso da USP será o Col, uma ferramenta de apoio ao ensino on-line, desenvolvida dentro da própria universidade, mais precisamente no Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores (Larc) da Escola Politécnica. "O Col pode ser utilizado como ferramenta de apoio no ensino presencial ou em cursos a distância", explica a professora da Poli e coordenadora de desenvolvimento do Col, Regula Melo Silveira. "Trata-se de um instrumento de gerenciamento e distribuição de material didático e de intenção entre professor—aluno e aluno— aluno", afirma.
Atualmente, dezenas de disciplinas de cursos da USP utilizam a ferramenta como apoio ao ensino presencial. Na Escola Politécnica, algumas disciplinas já são oferecidas totalmente a distância. "Os professores podem depositar no Col todo o material didático dos cursos, como gráficos, textos, slides, animações, simulações e imagens", explica Regina.


"É possível ainda planejar fóruns,chats e outras atividades interativas, além de avaliar o aluno", completa. Regina conta que o Col tem um teste de múltipla escolha, corrigido automaticamente pelo sistema, para que o aluno possa se auto-avaliar e verificar o grau de absorção do conteúdo.

O Col tem dois servidores na USP:


um na Escola Politécnica, instalado em 2001 só para professores da Poli, e outro disponível desde 2003 para todos os professores da universidade. Atualmente, o Col tem cerca de 9 mil usuários, só no servidor da USP. Para Regina, um dos desafios é a divulgação do sistema entre os cerca de 70 mil alunos da universidade. "É um trabalho de aculturamento e a divulgação é boca a boca", diz ela. "Muitos professores são convencidos a usar o sistema pelos próprios alunos", conta. O próximo passo, segundo a professora, é integrar ao sistema novas ferramentas de comunicação e interação, além de distribuir o Col com código aberto para outras universidades e escolas públicas.

Apoio à aprendizagem


Um dos entusiastas do ensino na web é o professor Homero Fonseca Filho, do Departamento de Engenharia de Transportes da Poli. A partir deste semestre, a disciplina de Geoprocessamento, ministrada por ele e mais dois professores, será oferecida a distância pela primeira vez. "A disciplina estará disponível tanto para alunos que foram reprovados na disciplina por nota como para aqueles que nunca a cursaram, mas que estão em situação de conflito de horário com outras disciplinas", explica. Há pelo menos três anos, ele utiliza tecnologias de ensino a distância como apoio ao ensino presencial, entre elas Col. "O processo é gradual. A cada semestre, acrescentamos um novo recurso de EAD", afirma.


Desde 1997, o Larc desenvolve pesquisas sobre a educação na internet. "Percebemos que é custoso manter uma equipe para desenvolver conteúdo interessante para os cursos", diz Regina. "Muitos cursos presenciais não têm material didático. Às vezes, o professor é tão bom que dá aula sem material de apoio. Está tudo na cabeça", explica. Uma das técnicas utilizadas pelo Larc para agilizar o processo de criação de material didático é gravar as aulas da Poli em vídeo, sincronizar com as transparências e colocar à disposição dos alunos no Col. "É o que chamamos de anotação eletrônica, O aluno pode chegar em casa e rever o conteúdo visto em aula", diz o coordenador do Larc, professor Wilson Ruggiero.


Ruggiero conta que o Larc é uma das instituições envolvidas no projeto Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada (Tidia), desenvolvido por diversas universidades paulistas, principalmente públicas. Financiado pela Fundação para o Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Tidia é formado por três grandes projetos cooperativos, que envolvem mais de 500 pesquisadores.


O KyaTera, coordenado pelo professor Hugo Fraguíníto, da Unicamp, visa estabelecer uma rede de fibras ópticas destinada à pesquisa, desenvolvimento e demonstração de tecnologias para aplicações da Intemet Avançada. A Incubadora Virtual, coordenada pelo professor Jmre Simon, do Instituto de Matemática e Estatistica da USP, é um espaço para a criação de conteúdos digitais abertos, de alta qualidade, de interesse acadêmico, tecnológico ou social. o Aprendizado eletrônico (Tidia-Ae), coordenado pelo professor Wilson Ruggiero, do Larc, tem como objetivo desenvolver uma cesta de ferramentas abertas e de alto desempenho para o ensino, explorando a intemet avançada desenvolvida no KyaTera.


O objetivo é estimular a pesquisa na área de tecnologia da informação aplicada â EAD. "A idéia é que essas ferramentas sejam distribuídas futuramente para todas as universidades que queiram fazer uso delas", diz Ruggiero. Para ele, o ensino a distância on-line deverá ser conquistado gradualmente. "inicialmente, as ferramentas tecnológicas vão contribuir para a melhoria da qualidade do próprio ensino presencial", acredita. "À medida que você ganha experiência, vai ampliando o uso dessas ferramentas até ganhar experiência suficiente para promover o ensino a distância com momentos presenciais cada vez menores", explica. "Só assim, de fato, conseguiremos uma operação de ensino de qualidade", ressalta.


O avanço da EAD não se restringe à Região Sudeste. A Universidade Federal do Ceará já atua com EAD desde 1998, informa o diretor do Instituto Universidade Virtual da UFC (UFC Virtual), Mauro Pequeno. "Criamos o Instituto com o objetivo de se constituir num pólo irradiador da EAD, amando em todas as vertentes, ou seja, ensino, pesquisa e extensão", explica Pequeno. "Nossa meta é difundir e universalizar a EAD na UFC, procurando cada vez mais envolver os departamentos e faculdades nessas linhas de atuação", completa.


A UFC está implantando o curso de Administração e de licenciatura em Letras (Libras — Língua Brasileira de Sinais). "Pretendemos implantar também dois cursos de licenciatura em Química e Letras (Português e Línguas)", promete Pequeno.


Periodicamente, a UFC oferta ainda cursos de especialização a distância. A novidade, segundo Pequeno, é um mestrado a distância em EAD, o mestrado profissionalizante em Tecnologia da Informação e Comunicação na Formação em EM o primeiro e único nessa modalidade aprovado pela Capes. Segundo Pequeno, cerca de 17 mil alunos já passaram pela UFC nas diversas modalidades.
A UFC faz parte da Unirede, um consórcio que reúne 70 instituições públicas de ensino superior interessadas em democratizar o acesso à educação de qualidade por meio da oferta de cursos a distância. Entre elas, estão a Unifesp, de São Paulo, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Formação de professores


O consórcio promove a cooperação entre universidades e escolas técnicas. Por meio de urna parceria como MEC, a Unirede possibilitou a estruturação do programa de educação a distância, o TV na Escola e os Desafios de Hoje, que habilita professores da rede pública do ensino fundamental e médio ao uso de TV e vídeo nas atividades pedagógicas. Outro curso em andamento é o Formação em Educação a Distância, que capacita educadores de nível superior para a estruturação de cursos a distância.


A UFRN faz parte da Unirede desde sua fundação. No ano passado, a universidade lançou as licenciaturas em Química, Física e Matemática ministradas a distância. Neste ano, tem início a licenciatura em Geografia.


A IJFRN começou sua atuação na área de EAD em 2003. "A EAD é a maneira mais viável de estender a oferta de cursos, sobretudo na área da graduação, além de promover a inclusão social", afirma a professora Vera Amaral, secretária de EAD da UFRN. "Elegemos como prioridade a graduação, principalmente a formação de professores pela imensa carência de tais profissionais na nossa região", justifica Vera.


Em função dos cursos a distância, foram abertas 1.560 vagas em dez pólos de apoio, localizados em quatro Estados da região (Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas), em parceria com a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), a Universidade de Pernambuco (UPE) e a Universidade Federal de Alagoas (Ufal). A UFRN trabalha com um sistema de tutoria presencial, no qual há 20 alunos para cada tutor, além da tutoria a distância. "O conteúdo do material impresso é elaborado por professores da própria universidade", diz Vera.


A Universidade Federal de Goiás (UFG) também trabalha para difundir e democratizar o acesso à educação. Por meio da UFG Virtual, a universidade busca divulgar implantar meios eficientes para a realização de atjvidades de EAD, levando à sociedade os resultados de seus estudos e pesquisas.
À UFG Virtual trabalha em parceria com outras instituições que compartilham os mesmos propósitos, entre elas a Unirede e o Consórcio de Universidades Virtuais do Centro-Oeste, formado pelas sete instituições públicas de ensino superior da Região Centro-Oeste.

Consolidação


Na mesma região, a Universidade Federal de Brasília (UnB) lança seu primeiro curso de graduação a distância. Com início no segundo semestre de 2006, o curso de licenciatura em Biologia terá 250 vagas e vai funcionar na UnB e em quatro pólos, em Planaltina, Ceilância, Formosa e Luziânia, que serão como braços da universidade.


O curso é resultado de um convênio assinado com o Ministério da Educação (MEC) que envolve mais oito universidades: a estadual de Santa Cruz, na Bahia; a estadual e a federal de Goiás; a estadual e a federal de Mato Grosso do Sul; e as federais do Amazonas, do Pará e de Tocantins. A idéia é que elas trabalhem em parceria na elaboração de metodologia e material didático, além de criar 1,4 mil vagas para graduação a distância, distribuídas em 48 pólos por todo o país.


Desde 2000, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) promove editais internos do apoio à EAD. No mais recente, 39 projetos receberam apoio da Secretaria de Educação a Distância da Universidade. "O objetivo da secretaria é fomentar, apoiar e institucionalizar as ações de EAD na universidade", explica o secretário de EAD da UFRGS, professor Julio Alberto Nitzke.


A UFRGS começou a atuar em cursos de especialização a distância, relacionados à informática na educação, seguidos por cursos na área de Administração. Atualmente, a universidade está implementando 11 cursos de graduação a distância, principalmente licenciaturas.


Segundo Nitzke, as principais metas para 2006 são implantar o Sistema de EAD, formado por dois ambientes virtuais de aprendizagem, integrados ao sistema acadêmico, e implementar dez cursos de graduação a distância.


Com a implantação dos novos cursos serão oferecidas 3,7 mil vagas para a graduação. Na UFRGS, a web também é utilizada como apoio aos cursos presenciais. Em 2005, cerca de 5 mil alunos se envolveram em atividades de EAD nos cursos presenciais.


No Rio de Janeiro, também há iniciativas de incentivo à EAD. O Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cederj), um consórcio formado pelas universidades públicas fluminenses, proporciona cursos de ensino superior a distância, autorizados e reconhecidos pelo MEC. A Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estão entre as instituições consorciadas.