A desaceleração e o fascínio por adquirir coisas da China está quebrando os mercados, inclusive o nosso”, afirma Vanderlan Bolzani, diretora-executiva da Agência Unesp de Inovação, dando o tom da importância da inovação para as empresas atualmente. A agência faz a interface entre o pesquisador e o negócio. “Precisamos ter empresas de base tecnológicas. Mas sabemos que, sozinhas, as pequenas não têm condições. Por isso, estamos realizando eventos pelo estado de São Paulo para tentar o apoio de prefeituras na formação de arranjos produtivos locais e desenvolver inovação em empresas de um mesmo setor”, afirma.
Antes de cogitar algum tipo de novidade tecnológica, a empresa, principalmente de micro, pequeno ou médio porte, precisa se organizar financeiramente, sem ter dívidas bancárias ou de impostos, e estabelecer foco de atuação para, então, ter condições de investir ou pleitear recursos para o desenvolvimento de pesquisas.
Existem no país diversos programas de parcerias com universidades para auxiliar na competitividade de pequenas firmas, não somente voltados à criação ou ao aprimoramento de produto ou serviço, mas também para gerar melhoria no processo de gestão. E o caso do Programa de Capacitação da Empresa em Desenvolvimento (ProCed), da Fundação Instituto de Administração (FIA). “A universidade tem uma dívida com as pequenas por ter desenvolvido poucas iniciativas voltadas a elas, que são muito importantes para a movimentação da economia e geração de emprego”, afirma o coordenador do programa, Almir Ferreira de Sousa. “O ProCed foi criado para aproximar a universidade do pequeno empresário. Queremos mostrar que ela está ao alcance dele.” Segundo Sousa, a queixa mais comum é a falta de recursos. “O trabalho de melhorar a administração dessas empresas também tem como base a pesquisa”, afirma. Para apresentar o assunto às companhias, o Pro- Ced vai realizar em 27 de outubro a 5ª edição do Encontro da Universidade com Empresas em Desenvolvimento. Para se inscrever, basta acessar www.fia.com.br/proced. Foi a partir de evento da FIA que Manoel Canosa Miguez, proprietário da Escovas Fidalga, atentou para alguns ruídos que impediam resultados melhores à empresa.
“Não dávamos a devida importância à área comercial. Achávamos que a produção era o mais importante. Utilizávamos uma linguagem na fábrica, e os vendedores usavam outra.
Só que não adianta fazer um produto maraví- 1hoso e não saber vendê-lo. A partir do momento em que padronizamos a linguagem, nosso faturamento cresceu 5%. A inovação começa nas pequenas coisas”, diz. Para solucionar dúvidas de processos tecnológicos de baixa e média complexidade que não envolvem pesquisa, as firmas podem contar também com a orientação do Disque Tecnologia, serviço oferecido pela
Agência USP de Inovação. As demandas pódem ser enviadas por meio do site www.respostatecnica. org.br e, a resposta, explica a diretora de empresas e empreendedorismo Dulcimar Barbeto, é elaborada a partir de consulta a informações disponíveis. O Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), a incubadora de empresas criada em cooperação por governo do estado, Sebrae e USP, recebe tanto empreendedores novatos quanto empresas constituídas que decidem incubar ideia inovadora. Para ser aceito no processo seletivo, o projeto tem de nunca antes ter sido pensado por ninguém. Tanto que, dos inscritos, a metade fica no meio do caminho por não ser inovador, não ter viabilidade, ou pela desistência dos próprios inscritos. A incubação dura até quatro anos. Se aprovado, o projeto recebe a orientação de pesquisador da USP, que além de ter o know how para desenvolver a iniciativa, é a ponte para a solicitação de recursos públicos. Foi o caso da Tramppo, empresa que retira o mercúrio de lâmpadas fluorescentes queimadas e, após descontaminá- las, faz o descarte correto. A ideia surgiu em 2003, quando a empresa foi incubada. Mas só deslanchou em 2005 quando conheceu a pesquisadora Atsuko Nakazone, que desenvolveu o projeto e o submeteu à análise da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Após dois anos de espera, conseguimos R$ 50 mil para desenvolver a primeira fase, que consiste em demonstrar a viabilidade. Ficávamos trabalhando em uma pequena salinha quebrando lâmpadas tubulares fazendo testes em cima de uma bancada. É muito difícil conseguir a verba. Cada parecer leva em torno de seis meses e, se voltar da análise três vezes, não há mais chances”, lembra Atsuko. “Para a segunda etapa, em que foram desenvolvidos os maquinários para fazer a descontaminação, a empresa recebeu outros R$ 500 mil. O que valeu muito a pena, pois o custo dos equipamentos equivale a 25% dos importados”, diz. Os investimentos, porém, foram compartilhados. “A maior fatia veio da Fapesp, mas a empresa também teve sua contrapartida. Além disso, durante o período de pesquisa, foi preciso ter reserva para nos manter”, conta o sócio Carlos Alberto Pachelli. “A fundação é muito criteriosa. Exigem-se muitos documentos e o negócio tem de ser muito organizado. Há, ainda, muito rigor na prestação de contas. É preciso ter paciência e insistir”, conta. Em todas as etapas foram sete anos. Hoje a Tramppo está em um galpão de 700 metros quadrados em Cotia, com 19 funcionários, mais de 600 clientes. “Na incubadora você faz o ciclo completo. O Cietec nos mostrou o caminho sobre como arranjar financiamento, o que, não fosse pela pesquisadora, levaria muito mais tempo para conseguir.”
Pachelli recorreu a um dos principais programas de apoio à inovação da Fapesp, o Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), que foi revisto em abril e ampliou o número de funcionários das empresas atendidas de 100 para até 250. “Os aportes da fundação variam de acordo com o risco, mas geralmente oscilam entre 50% e 70% do valor” , conta o coordenador da área de pesquisa para inovação, Sérgio Queiroz. Segundo Queiroz, são recebidas por ano mais de 20 mil solicitações, todas devidamente analisadas. Porém, o índice de aprovação normalmente não passa de 50%.