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Jornal da USP online

A força da pesquisa

Publicado em 20 janeiro 2014

Por Izabel Leão

O acelerador Van de Graaff, projeto encabeçado pelo físico Oscar Sala; o software que simula manobras de navios e torna a atracação nos portos mais segura e eficiente e o projeto de um riser de perfuração de poços de petróleo em águas profundas desenvolvidos pela Escola Politécnica; a produção de uma substância capaz de atrair mariposas de uma praga dos laranjais desenvolvida pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP em Piracicaba; a criação de um software para revisão de textos pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) de São Carlos; o primeiro transplante de coração do Brasil, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina; o primeiro computador, denominado “Patinho Feio”, que abriu caminho para a microeletrônica nacional; o Projeto Mexilhão, desenvolvido pelo Centro de Biologia Marinha (Cebimar), que deu origem à cultura comercial do molusco na costa de Santa Catarina; o primeiro batiscafo – veículo submersível destinado à exploração dos oceanos em regiões de águas ultraprofundas – construído no Brasil, nascido no Instituto Oceanográfico: esses são apenas alguns exemplos de uma longa lista de resultados do trabalho desenvolvido por pesquisadores da USP.

A tradição de qualidade na produção científica – marca dos oitenta anos da USP – vem já das primeiras décadas de existência da Universidade, quando foram gerados trabalhos científicos como os artigos sobre a existência do méson pi, de autoria de César Lattes, Beppo Occhialini e Cecil Powell, em 1947, passo fundamental na compreensão do mundo subatômico.

A USP é responsável por metade de toda a produção científica do Estado de São Paulo e mais de 25% da brasileira. Falar sobre a pesquisa na USP é lembrar que seu sistema de pós-graduação é considerado o mais expressivo da América Latina. Em dezembro do ano passado, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgou a Avaliação Trienal referente ao período de 2010 a 2012, no qual foram analisados 3.337 programas de pós-graduação em todo o País. A USP é responsável por 22% dos programas de pós-graduação com melhor avaliação pelo órgão. Dos 230 programas avaliados, 44 obtiveram nota 7; 45 ficaram com nota 6 e 60 cursos tiveram nota 5.

“Esse resultado confirma a USP como centro de excelência no contexto da pós-graduação brasileira”, ressalta a professora Belmira. A Universidade possui hoje 23.670 alunos de pós. No triênio analisado foram outorgados 17.637 títulos, sendo 10.592 de mestrado e 7.045 de doutorado. A USP também celebrou 136 convênios de dupla titulação com instituições estrangeiras.

Núcleos – Nos últimos três anos, a Pró-Reitoria de Pesquisa estimulou a criação de novos Núcleos de Apoio à Pesquisa (NAPs). Hoje existem mais de 130, com o caráter duplo de serem interdisciplinares e interunidades. “É cada vez mais necessário integrar as diversas áreas do saber para alavancar o conhecimento”, ressalta a pró-reitora adjunta Belmira Oliveira Bueno.

Outro exemplo expressivo das pesquisas avançadas estimuladas na Universidade são os onze Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) existentes na USP, que contam com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Os centros reúnem aproximadamente 500 cientistas de São Paulo e 70 de outros países. Espalhados pelos campi de São Paulo, São Carlos e Ribeirão Preto, os Cepids compreendem áreas como os estudos da metrópole, estudo da violência, pesquisa em alimentos, inovação e difusão em neuromatemática, pesquisa em doenças inflamatórias e em biodiversidade e fármacos.

A professora Belmira destaca as dezenas de visitas de delegações estrangeiras ocorridas nos últimos anos em busca de convênios ou acordos de cooperação com a USP, fruto do destaque que a Universidade alcançou no cenário internacional. Buscaram parceria instituições como as universidades de Princeton e da Carolina do Norte (Estados Unidos), de Toronto (Canadá), do Porto (Portugal) e de Salamanca (Espanha), para citar apenas alguns acordos recentes. “Temos muito que nos orgulhar desse avanço surpreendente que a USP conquistou em tão pouco tempo de existência como universidade instituída”, avalia a pró-reitora adjunta.

Outro índice de expressão conquistado são as premiações no Brasil e no exterior. O prêmio Fundação Bunge, em sua 58ª edição, contemplou dois pesquisadores da USP na categoria “Vida e Obra”: Leyla Perrone-Moisés como crítica literária e Klaus Reichardt na área de recursos hídricos e agricultura. O Prêmio Almirante Álvaro Alberto, concedido anualmente pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), desde sua primeira edição, em 1982, laureou pesquisadores uspianos como Maria Isaura Pereira de Queiroz (antropologia), Antonio Candido (literatura), Florestan Fernandes (sociologia) e Aziz Ab’Saber (geografia).

São nomes que se somam a outros (como Alfredo Bosi, Sérgio Buarque de Holanda e Octavio Ianni, também para citar só alguns) que, na área das ciências humanas e sociais da USP, contribuíram para construir uma tradição de pensamento original e altamente representativa na América Latina.

Rankings – Nos últimos anos, os rankings universitários internacionais vêm ganhando cada vez mais importância. De acordo com o World Report da SCImago Institutions Rankings de 2012, a USP está classificada na décima-primeira posição mundial entre as 3.290 instituições de ensino e pesquisa internacionais classificadas. Já o University Ranking by Academic Performance (URAP) posiciona a USP como a melhor universidade ibero-americana e a 28ª colocada no mundo.

O World University Rankings, publicado pela revista britânica Times Higher Education (THE), também classificou a USP como a melhor universidade ibero-americana e a 158ª melhor do mundo. Já em 2013, segundo a classificação internacional QS World University Rankings, 26 cursos da Universidade aparecem como os melhores do mundo.

Para a professora Belmira Bueno, desde a sua criação, em 1934, a contribuição da USP para a história brasileira é bastante relevante. Dela saíram, por exemplo, 12 presidentes brasileiros, como Affonso Penna, Wenceslau Braz, Jânio Quadros e Fernando Henrique Cardoso. Na história do Supremo Tribunal Federal (STF), 53 ministros passaram pelos bancos da Faculdade de Direito da USP.

Muitos dos cursos de graduação e de pós espalhados pelo Brasil foram constituídos com a colaboração decisiva de pelo menos um professor formado na Universidade. “A contribuição da USP no campo da pesquisa é inegável e tem cumprido também uma função social formando pesquisadores, assessores para as prefeituras, governos estaduais e ministérios, multiplicando os resultados do seu trabalho de investigação”, lembra a pró-reitora adjunta.

Para Belmira, o ano de 2014 é uma oportunidade essencial que deve ser aproveitada para difundir na comunidade uspiana a história da Universidade de São Paulo, destacando o papel que ela ocupa e suas raízes históricas. “Tudo isso ajuda a criar um sentimento de pertencimento, que vem junto com a identidade institucional e que perpassa a identidade nacional” diz. “Os 80 anos devem ser comemorados não de forma ufanista, mas sim mostrando o papel da USP na formação de profissionais qualificados, despertando nas gerações mais jovens a importância desse patrimônio.”

Melhorias na lavoura e na mesa

Profissionais do agronegócio apontam a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, como a instituição de ensino superior mais bem conceituada para formar profissionais na área. Graças a pesquisas desenvolvidas na unidade, que levaram ao melhoramento genético de alface, repolho, brócolis, couve-flor, cebola e berinjela, o brasileiro passou a comer salada o ano inteiro.

“A Esalq teve papel-chave no desenvolvimento de carnes superiores e de variedades de hortifrutigranjeiros, como também de milhos mais nutritivos e ricos em aminoácidos adequados às condições climáticas brasileiras”, ressalta José Vicente Caixeta Filho, diretor da escola.

O professor Caixeta afirma ainda que as pesquisas de propriedades do solo e de nutrição de plantas transformaram o cerrado brasileiro, antes inadequado para o plantio, em celeiro da produção de grãos. Na área de biotecnologia, auxiliaram os agricultores na adaptação de solos ditos inapropriados do ponto de vista físico, químico e biológico, transformando-os em capazes de sustentar plantas e animais e ajudando o agronegócio a responder por parcela significativa do PIB brasileiro.
A Esalq também participou dos projetos de sequenciamento do genoma da Xylella fastidiosa, da cana-de-açúcar e da Xanthomonas sp, entre outras. Também desenvolveu cultivares de citros mais resistentes a patógenos, como o greening, e esteve muito envolvida na disseminação do conceito de plantio direto no Brasil. Pesquisou o genoma do frango, identificando os diversos genes relacionados ao desenvolvimento muscular da ave, a fim de melhorar sua carne.

Os estudos do combate às pragas geraram a técnica do emprego de Trichogramma, uma pequena vespa que controla de forma natural as pragas como a broca da cana de açúcar, a lagarta do cartucho do milho e a traça do tomateiro.
Outra estratégia de controle biológico por meio de entomopatógenos, utilizando fungos e vírus benéficos, teve sucesso em citros com as vespinhas Ageniaspis e Tamarixia. Um destaque fica por conta da descoberta do feromônio sexual do bicho furão dos citros, praga que causava perda anual de mais de US$ 50 milhões nas lavouras.

Tecnologia de ponta na genética

Entre os exemplos de tecnologia de ponta na USP estão as pesquisas em genética humana. O Centro do Genoma Humano do Instituto de Biociências (IB), que conseguiu aprovação de continuidade do programa Cepid da Fapesp, ampliou seu nome para Genoma Humano e Células-Tronco. Considerado o maior centro da América Latina no atendimento a doenças genéticas, em 2014 estudará o genoma a partir da Next Technology Sequency – tecnologia com capacidade para melhorar o diagnóstico porque, ao invés de procurar mutações em lugares específicos, “pode fazer uma varredura em todo o genoma”, explica a professora Mayana Zatz, diretora do centro.

Outra pesquisa de impacto desenvolvida ali é o Projeto 80 Mais, que pretende estudar o gene de pessoas saudáveis com mais de 80 anos para verificar o que elas têm de especial. O estudo, em parceria com a Faculdade de Saúde Pública (FSP), conta com um grupo de 1.500 idosos. “Já estudamos o genoma de 600 idosos e fizemos ressonância no cérebro de aproximadamente 500 deles, outro viés da pesquisa, realizada com o Hospital Albert Einstein, para entendermos a longevidade. Tudo isso gerará um banco de dados no qual será possível avaliar o impacto das alterações do DNA”, explica a professora.