O reordenamento por que passam hoje no mundo as organizações está levando conceituadas escolas de administração de empresas no exterior a implementar mudanças em seus currículos. No Brasil, a Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), sai à frente nessa empreitada. Paralelamente ao planejamento estratégico que realiza anualmente, a direção da escola acaba de pôr em marcha um ousado programa de prospecção de cenários futuros de administração, com o objetivo de reformular os conteúdos de suas disciplinas nos próximos quinze anos.
Para desenvolver esse alentado trabalho, seu idealizador, Alain Florent Stempfer, diretor da escola, formou uma equipe de quatro professores. Cada um deles se debruçará sobre um dos quatro grandes temas que compõem o programa: mercado de trabalho (sob responsabilidade do professor Roberto Venosa); concorrência na área de ensino de administração (professor Carlos Bertero); novas tecnologias e o impacto na educação (professor Norberto Torres); e valores das novas gerações (professor Sigmar Malvezzi).
O diretor Alain Stempfer encara a tarefa como um verdadeiro desafio porque, diz ele, será realizada em meio à onda de incertezas e ambigüidades trazidas pelas velozes mudanças deste fim de século. Ressalva, porém, que a trajetória da escola lhe dá confiança para realizar a nova empreitada. "A FGV conquistou prestígio graças a sua vocação empreendedora e sua capacidade de reunir professores de diferentes vertentes", diz ele, ao se referir à bagagem cultural diversificada de cada um dos professores do grupo. A equipe, destaca, reproduz uma das marcas da escola que é de abrigar um corpo docente com pluralidade de idéias.
Como o trabalho está apenas começando, não é possível ainda definir objetivamente o rumo dessas tendências. Stempfer espera que até o mês de julho algumas análises já possam ser delineadas. No momento, os professores responsáveis, auxiliados por alunos da pós-graduação, fazem um levantamento de subsídios, ou seja, um registro dos diversos contextos hoje existentes.
Nesta etapa, as informações serão buscadas não apenas em livros, artigos, teses e pesquisas de mercado, mas também junto a empresários e executivos na ativa.
Segundo Stempfer, o trabalho desta primeira fase será bastante profícuo, pois englobará discussões, seminários e workshops abertos ao público em geral, cujos resultados vão gerar literatura específica. Estes eventos terão início em março ou abril próximos.
No lado acadêmico, estas discussões deverão auxiliar no desenvolvimento de linhas específicas de estudos, envolvendo assuntos de interesse atual como ecologia, meio-ambiente, qualidade total, negócios internacionais e Mercosul. Serão transformadas em disciplinas, com um determinado número de créditos, que poderão ser somados, pelos alunos, a outras disciplinas. Roberto Venosa, engenheiro, com doutorado em sociologia na França e professor titular da cadeira de Recursos Humanos da GV, diz que o mercado de trabalho - tema que lhe coube desenvolver no projeto -deve merecer muita atenção, pois será muito abalado no futuro. As empresas, diz ele, estão conscientes disso e muitas delas já avançaram bastante nesse campo. Algumas já incorporaram na lista de seus investimentos prioritários itens como treinamento e reciclagem de funcionários.
Segundo Venosa, embora árdua, esta tarefa deve ser encarada como vital ao bom desempenho de uma companhia. Ao longo de 30 anos de trabalho, diz ele, um profissional precisa passar, em média, por pelo menos seis reciclagens de conhecimento; em cada uma delas, salienta, ele poderá recompor apenas a metade do que perdeu em conhecimento no prazo de cinco anos.
A GV oferece várias opções às empresas, através de seu departamento de Educação Continuada. Para este ano, há um leque de 29 cursos noturnos, com duração de um semestre cada um, que abrangem várias áreas de interesse; desde o já tradicional intensivo de administração geral, até os específicos como controladoria, logística em transportes e mercado de capitais (veja tabela). A Educação Continuada da GV também oferece cursos em tempo integral nas férias; programas de direção para executivos de alto nível em regime de imersão; e programas' "in company", especialmente desenhados para as necessidades das empresas (são cursos que podem variar de 30 a 400 horas, destinados para níveis gerencial e alta direção).
Além destes, desde agosto de 1993, a GV conta com o curso MBA-Master in Business Administration, com duração de dois anos em tempo parcial. O MBA é um mestrado em administração de empresas, voltado para profissionais que já exerçam atividades em nível executivo, ou a consultores externos e internos. A diferença em relação ao mestrado clássico é ser profissionalizante. A particularidade é fazer uso intensivo de estudo de casos, para integrar questões práticas atuais no mundo dos negócios, com conhecimentos orientados para a tomada de decisões. Alunos da GV podem obter o título MBA também pela Universidade do Texas, nos Estados Unidos, por convênio assinado com essa escola.
Em dezembro passado, a GV assinou acordo com a Philips do Brasil, que vai investir US$ 450 mil na escola nos próximos três anos, patrocinando a vinda de seis professores da Universidade do Texas (um por semestre) para lecionar na cadeira de negócios no curso de graduação e também no MBA.
No Brasil, exemplo da preocupação das empresas com treinamento de funcionários pode ser constatado no fluxo de alunos que procuram a GV para cursos complementares. Segundo Stempfer, há 1,2 mil alunos matriculados nos cursos de especialização da Educação Continuada e 500 nos cursos de mestrado e doutoramento. Quase todos, profissionais em exercício, com curso pago pelas empresas onde trabalham. "São jovens de 28 a 35 anos que as organizações têm interesse em preparar para postos de comando", diz Stempfer.
O mais recente contrato da GV é com a Petrobrás, no valor de US$ 450 mil. Trata-se do patrocínio de uma sala de aula equipada com aparelhos de telecomunicações, para cursos MBA à distância, transmitidos via satélite. Os primeiros cursos, de desenvolvimento gerencial, serão para funcionários da Petrobrás, mas, segundo Stempfer, outras empresas já demonstraram interesse no novo formato. Para a empresa, explica, as vantagens são muitas: redução de custos com viagens, estadas, translados, etc, e do tempo perdido nesses deslocamentos, bem como ampliação da capacidade de treinamento em locais distantes ou inóspitos.
Para a escola, a nova opção representa além da captação de recursos, melhor aproveitamento do corpo docente, já que os cursos poderão ser acompanhados, simultaneamente, por um público muito maior. (M.V.)
Notícia
Gazeta Mercantil