Não são muitas as instituições brasileiras que se orgulham de haver contado ao longo de 40 anos, quase sem interrupção, com sucessivas gestões altamente eficientes e progressistas. Merece, pois, o aplauso irrestrito dos brasileiros a Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo, cujo funcionamento se iniciou no dia 23 de maio de 1962, graças à visão que teve o governador Carvalho Pinto do que seria o futuro do seu Estado.
Criada pelo governo paulista para apoiar trabalhos de pesquisa científica e técnica realizados naquele Estado, poderia caber a indagação: até onde se justifica estarmos nos ocupando de uma instituição cuja atividade não se estende, aparentemente, ao nosso território? Logo responderemos: será a Royal Academy, de Londres, uma instituição exclusivamente inglesa, ou caberá a todo o mundo científico celebrar o extraordinário papel que desempenhou no progresso da ciência? Será que a National Science Foundation ou os National lnstitutes of Health devem considerar-se norte-americanos no sentido restritivo da expressão? Não nos cabe, então, reconhecer o mérito do que lhes foi dado realizar fomentando as ciências e, particularmente, as ciências da Saúde? Mais do que exclusivamente paulista, a Fapesp é, merecidamente, brasileira. Nada melhor para justificar este entendimento do que citar alguns estudos por ela patrocinados.
O Projeto Genoma é o que, de todos e até agora, adquiriu maior visibilidade. Consistiu no mapeamento genético da bactéria Xylella fastidiosa que ataca os pés de laranja. Para a sua execução, 192 cientistas trabalharam em 25 laboratórios brasileiros sob uma só coordenação. Graças à experiência adquirida nesse projeto, os nossos cientistas estenderam seus trabalhos às áreas da genética e da biologia molecular referentes à cana-de-açúcar e ao câncer.
O Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe) propiciou a mais de 200 dessas entidades a transformação de conhecimentos e idéias em produtos, mediante o financiamento a fundo perdido de pesquisas desenvolvidas dentro das próprias empresas. Mostra a experiência de outros países, que pode ser mais fácil implantar novas tecnologias em empresas menores e mais ágeis, do que em grandes corporações onde é mais lenta e difícil a difusão de inovações.
O projeto Biota está inventariando e caracterizando toda a biodiversidade do Estado de São Paulo. Os conhecimentos adquiridos graças a esse projeto assegurarão a melhor definição de políticas públicas relativas à conservação e ao uso sustentável do patrimônio ecológico de São Paulo e do Brasil.
O Programa de Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada (Tídia) destina-se ao estudo de redes velozes de comunicação digital.
O Programa de Pesquisa em Políticas Públicas já apoiou mais de 160 projetos que estabelecem parcerias entre órgãos de saúde, ensino, segurança, preservação do meio ambiente, relações de emprego e de outras atividades com elevada prioridade para os poderes públicos.
O Programa de Apoio à Propriedade Intelectual tem como objetivo orientar e auxiliar os pesquisadores na defesa da propriedade intelectual dos inventos resultantes de pesquisas financiadas pela Fundação.
O Programa de Incentivo ao Jornalismo Científico visa estimular a formação de profissionais especializados nesse gênero de comunicação, de enorme importância para a compreensão adequada, pela população cm geral, do significado dos trabalhos de Ciência e Tecnologia.
O Programa de Infra-estrutura de Pesquisa investiu mais de US$ 400 milhões na recuperação de laboratórios, museus e outros instrumentos de apoio à pesquisa técnica e científica. O Programa da Biblioteca Eletrônica (ProBE) apóia uma biblioteca virtual de textos completos de artigos de periódicos científicos internacionais.
Não se esgota aqui a relação dos projetos e programas que se têm beneficiado com o apoio da Fapesp. Várias outras unidades da nossa Federação têm reconhecido na Fundação paulista um exemplo a ser seguido, desde que cumpridas as adaptações indispensáveis em semelhantes situações. O Brasil todo tem, pois, motivos de sobra para aplaudir as realizações da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo e fazer votos para que continue a servir de modelo perante todo o nosso País.
Roberto Figueira Santos
é professor titular e ex-reitor da Ufba e ex-governador da Bahia
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A Tarde (BA)