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Gazeta Mercantil

A expansão do mapeamento genético (1 notícias)

Publicado em 04 de janeiro de 2002

Por Andrea Guimarães - de Brasília
A partir do projeto Genoma Brasileiro - que começou há um ano e acaba de concluir sua primeira fase, com o mapeamento dos genes de uma bactéria - as universidades de Brasília estão ampliando sua atuação e desenvolvendo outros projetos de seqüenciamento genético. A Universidade Católica de Brasília (UCB), por exemplo, está envolvida em três projetos de organismos bem mais complexos, como o eucalipto, o arroz e a banana. Ao mesmo tempo em que trabalhavam com a chromobacterium violaceum, o objeto de pesquisa do projeto nacional, os pesquisadores da Católica começaram os outros três projetos. Segundo o professor-doutor Márcio Elias Ferreira, coordenador do laboratório, a continuidade da universidade no projeto do Genoma ainda não está definida, mas também não foi descartada. "Como apareceram outros trabalhos, achamos mais interessante seguir mapeando genomas, mas poderemos também seguir na rede nacional", explica. O trabalho não seguirá exatamente os mesmos moldes da rede nacional financiada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia. Os três genomas não serão mapeados por inteiro, o chamado genoma total, mas apenas o funcional, que é a parte responsável pela codificação de proteínas. O objetivo final nas três pesquisas inclui o aumento de produtividade. A pesquisa com a banana faz parte de um consórcio internacional, com participação de países como Estados Unidos, Bélgica, Inglaterra e França, além de alguns países africanos. O Brasil está representado pela UCB. O projeto do eucalipto está sediado na UCB e conta ainda com mais 20 instituições, sendo 12 empresas e oito universidades. A pesquisa poderá contar com verbas do fundo setorial Universidade-Empresa no ano que vem. O seqüenciamento genético do arroz será liderado pela Católica, que pretende identificar quais são os genes responsáveis pelo aumento de produtividade da planta. "Acredito que o melhoramento genético evitará que o Brasil continue a importar arroz para alimentar a população no futuro", diz o professor Ferreira. A Universidade de Brasília (UnB) atualmente está mais empenhada no projeto Genoma Regional. "Estamos trabalhando 20 horas por dia nisso, capacitando técnicos e professores de outras universidades de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para mapear o fungo Paracoccidioses brasilienis", explica a professora Maria Sueli Soares Felipe. A primeira etapa do projeto Genoma Brasileiro, que mapeou o conteúdo genético da Chromobacterium violaceum, encontrada em regiões tropicais, foi encerrada oficialmente ontem. Há um ano foi implantada uma rede de 25 laboratórios e centros de pesquisa em todo o Brasil para seqüenciar a bactéria. O professor-doutor Andrew Simpson, do Instituto Ludwig de Pesquisa para o Câncer, foi o coordenador dessa fase da pesquisa. O ministro de Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg, se mostrou satisfeito com andamento do trabalho. "Os pesquisadores cumpriram o prazo estipulado, mesmo depois que se descobriu que a tarefa era mais ampla do que o estipulado", afirma. Financiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o projeto custou cerca de R$ 10 milhões. Os laboratórios receberam seqüenciadores totalmente automáticos importados pelo CNPq. Do Centro-Oeste, participaram três laboratórios: o de Biotecnologia Genômica, da Universidade Católica de Brasília (UCB), o de Ciências Biológicas, da Universidade Federal de Goiás (UFG) e o de Biologia Molecular, da Universidade de Brasília (UnB). A Chromobacterium violaceum foi isolada no rio Negro, na Amazônia, e não causa nenhum tipo de doença em humanos. Ela produz um pigmento chamado violaceína, com alto poder bactericida. Acredita-se que ela possa ser usada no tratamento da doença de Chagas, leischmaniose e de alguns tipos de câncer, principalmente o bucal. Outro potencial da bactéria é na produção de plástico biodegradável. Isso porque, em seu metabolismo, ela fabrica alguns tipos de polímeros, que, sintetizados, poderiam ser utilizados na fabricação de plástico. A última hipótese é que a bactéria sirva como um corrosivo de rochas e substitua o mercúrio na extração de ouro. REFLEXO A iniciativa do MCT em financiar um programa de seqüenciamento genético surgiu depois da grande repercussão internacional que teve o seqüenciamento da Xylella fastidiosa, bactéria que ataca a laranja, feito por pesquisadores paulistas financiados pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A pesquisa foi publicada na revista científica Nature, uma das mais prestigiadas do mundo. A partir de agora, cada um dos 25 laboratórios que participou da rede poderá escolher que aspecto da bactéria quer desenvolver. Segundo o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ésper Abrão Cavalheiro, os grupos poderão escolher aquela característica da bactéria em que têm mais experiência ou interesse em pesquisar. "Um lado interessante do trabalho foi que nós integramos vários pesquisadores de todo o Brasil, o que se transformou em uma nova forma de estimular a pesquisa", acrescenta. Andrea Guimarães de Brasília (aguimara@gazetamercantil.com.br)