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A eterna Cora Coralina (40 notícias)

Publicado em 11 de julho de 2020

Por Agência Anhanguera e Estadão Conteúdo

A poeta e doceira goiana batiza uma nova espécie de anfíbio encontrado em seu Estado natal

Cora Coralina (1889-1985) voltou ao noticiário esta semana quando os pesquisadores batizaram uma nova espécie de anfíbio encontrado em Goiás com o nome da poeta e doceira mais famosa da região. Trata-se de uma espécie minúscula de um anfíbio, que mede entre 1,25 cm e 1,53 cm, revelada agora por um grupo de pesquisadores das universidades estaduais de Campinas (Unicamp), Paulista (Unesp) no campus Rio Claro, e da Universidade Federal de Uberlândia, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Foi o pesquisador Felipe Andrade quem batizou esse pequeno anfíbio de Pseudopaludicola coracoralinae.

O artigo sobre a descoberta foi publicado na semana passada, no European Journal of Taxonomy. Esta é a segunda vez que a poeta goiana é homenageada pela ciência. Em 2005, ela também batizou uma nova espécie de peixe tropical, o Xenurobrycon coracoralinae.

Cora Coralina foi o nome que Ana Lins de Guimarães Peixoto Bretas, também conhecida como Aninha, adotou quando já era uma aspirante a poeta. Nascida em 20 de agosto de 1889, meses antes da proclamação da República, ela começou a escrever muito cedo, antes dos 15 anos, mas só foi publicar seu primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, em 1965 - depois de casar, trocar sua Vila Boa de Goiás natal por São Paulo, criar quatro filhos, enviuvar e vender tecido, doce e livro.

Àquela altura, Cora Coralina já era uma senhora de 75 anos que vivia dos doces que fazia na Cidade de Goiás. Seu nome ficou mais conhecido no Brasil depois de Carlos Drummond de Andrade publicar um texto sobre ela no Jornal do Brasil, em 1980.

A autora publicou ainda Meu Livro de Cordel (1976) e Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha (1983). Publicaria mais um volume, Estórias da Casa Velha da Ponte, previsto para 1984, mas ela estava cansada. Cora morreu no dia 10 de abril de 1985.

Hoje, sua obra está reunida no catálogo da Global e recentemente, no aniversário de 110 anos de nascimento de Cora, sua filha disse que ainda havia inéditos em seu baú. Cora também inspirou um filme: Todas as Vidas, nome de um de seus poemas.

Cora Coralina viveu a vida simples que tanto valorizava e sobre a qual escrevia em seus poemas.

Frases e poemas de Cora Coralina

"Venho do século passado. Pertenço a uma geração ponte, entre a libertação dos escravos e o trabalhador livre. Entre a monarquia caída e a república que se instalava. Todo ranço do passado era presente. A criança não tinha vez, os adultos eram sádicos e aplicavam castigos humilhantes."

"Nasci num berço de pedras. Pedras têm sido meus versos, no rolar e bater de tantas pedras."

"A vida é boa. Você pode fazê-la sempre melhor, e o melhor da vida é o trabalho."

"Na minha alma, hoje, também corre um rio, um longo e silencioso rio de lágrimas que meus olhos fiaram uma a uma e que há de ir subindo, subindo sempre, até afogar e submergir na tua profundez sombria a intensidade da minha dor!..."

"Quando escrevo, escrevo por um impulso interior que me vem do insondável que cada um de nós trás consigo. Mas uma coisa eu digo a você: ontem nós falamos nas pessoas que ainda estão voltadas para o passado. E eu digo a você: não há ninguém que não faça sua volta ao passado ao escrever. Nós todos fazemos. Nós todos pertencemos ao passado. Todos nós. Queira ou não queira. É de uma forma instintiva. Nós todos estamos ligados muito mais aos nossos avós do que aos nossos pais."

Todas as vidas (Do livro Dos Becos de Goiás e Estórias Mais)

Vive dentro de mim

uma cabocla velha

de mau-olhado,

acocorada ao pé do borralho,

olhando para o fogo.

Benze quebranto.

Bota feitiço…

Ogum. Orixá.

Macumba, terreiro.

Ogã, pai-de-santo…

(…) Vive dentro de mim

a mulher cozinheira.

Pimenta e cebola.

Quitute bem feito.

Panela de barro.

Taipa de lenha.

Cozinha antiga

toda pretinha.

Bem cacheada de picumã (...).

(...)Vive dentro de mim

a mulher do povo.

Bem proletária.

Bem linguaruda,

desabusada, sem preconceitos,

de casca-grossa,

de chinelinha,

e filharada. (...)

(...)Vive dentro de mim

a mulher da vida.

Minha irmãzinha…

tão desprezada,

tão murmurada…

Fingindo ser alegre seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim:

Na minha vida –

a vida mera das obscuras.

Escrito por:

Da Agência Anhanguera e Estadão Conteúdo