José Norberto Callegari Lopes, farmacêutico, doutor em química orgânica e professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP), campus Ribeirão Preto, inventou um bioinseticida contra o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue. Na verdade se trata de um larvicida solúvel em água, biodegradável e que não causa danos ao ecossistema. Seu princípio ativo vem de uma fruta de origem asiática, bem conhecida e bem adaptada no Brasil, cujo nome Callegari mantém em segredo. "A descoberta veio da observação de que as larvas das moscas não se desenvolvem nos frutos no pé nem nos frutos que apodrecem no chão", conta Callegari.
Segundo ele, as pesquisas, iniciadas há três anos, demonstraram que o veneno tem uma potente atividade larvicida não só contra o Aedes aegypti, que tem hábitos diurnos, mas também contra o Culex sp, nome cientifico dos pernilongos comuns que agem à noite.
Para tornar o veneno viável comercialmente, Callegari criou a Venomtec Biotecnologia Ltda., que funciona na Supera - Incubadora de Empresas de Base Tecnológica, instalada no campus da USP em Ribeirão Preto. "Estamos pleiteando R$ 60 mil à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para testes preliminares", diz Callegari. "Muito embora as observações visuais indiquem não haver interferência com outros organismos vivos é necessário sistematizar o estudo para comprovar a inocuidade do larvicida natural", explica.
Segundo o pesquisador, além dos R$ 60 mil, serão necessários, numa segunda fase, mais R$ 300 mil para viabilizar o produto comercialmente. "Ou seja, recursos para realizar ensaios em campo, desenvolvimento sintético e modificações moleculares para potencializar o veneno", diz o farmacêutico, que também espera contar com apoio financeiro da iniciativa privada.
Sabe-se que a dengue é hoje um dos principais problemas de saúde pública no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 80 milhões de pessoas se infectam anualmente em mais de 100 países, principalmente de clima tropical. Desse total. 550 mil necessitam de hospitalização e pelo menos 20 mil morrem da doença.
No Brasil, a dengue estava controlada no final da década de 80, quando foi registrado pouco mais de 3 mil casos da doença no ano de 1989. Mas. ao longo dos anos 90, o número de casos se multiplicou, chegando a 250 mil em 1997 e a 528 mil em 1998. Em 2002 se registrou o recorde de 794 mil casos de dengue no País. O número baixou 60% em 2003, segundo o Ministério da Saúde, mas a dengue ainda é motivo de grande preocupação das autoridades, pois ainda não foi desenvolvida uma vacina para combater a doença.
Para acabar com a dengue, os governos trabalham para eliminar os criadouros do Aedes aegypti e para matar os mosquitos adultos por meio de aplicação de inseticida conhecido como "fumacê". Para tanto são usados inseticidas organofosforados, como Temefos e Malatol, que afetam o ecossistema e podem causar a morte de peixes, aves, anfíbios e mamíferos. O "fumacê" tem a desvantagem de não acabar com os criadouros e precisar ser sempre repetido.
Eliminando-se os criadouros do Aedes aegypti se estará também atacando a febre amarela, que, em sua versão urbana, tem no mosquito da dengue seu principal transmissor.
A dengue não é transmitida de uma pessoa para outra. É uma virose manifestada subitamente por febre alta, dor de cabeça e no corpo. É comum a sensação de cansaço, falta de apetite, náuseas, vômitos e diarréia, além do aparecimento de manchas vermelhas na pele, coceira no corpo e sangramento no nariz ou nas gengivas.
Notícia
Gazeta Mercantil