Curar a hemofilia, combater tumores, regenerar ligações sanguíneas em partes do corpo que sofreram grandes lesões. Essas são algumas das perspectivas de um estudo do Hemocentro de Ribeirão Preto que vai investigar a fundo a atuação das chamadas células-tronco mesenquimais.
A pesquisa começou em 2008 e, no último dia 16, recebeu a última parcela de um convênio com o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) que vai consolidar o laboratório para teste em animais. Ao todo, foram disponibilizados R$ 343 mil para compra de equipamentos que permitirão acompanhar o funcionamento dessas células em três sub-projetos nos próximos dois anos.
Tiradas da medula óssea, as mesenquimais são unidades sem função específica (espécie de coringas do corpo) como as encontradas em cordões umbilicais, mas têm a vantagem de permanecerem indiferenciadas mesmo na fase adulta. Atualmente, elas são usadas em tratamentos contra rejeição de transplantes (nos casos em que as células do órgão recebido passam a atacar o receptor) e contra doenças cardíacas.
O que os pesquisadores coordenados pelo professor Dimas Tadeu Covas vão avaliar, entretanto, é se essas células podem atuar como um tipo de "regente" para as células-tronco das demais partes do corpo. Segundo Aparecida Maria Fontes, pesquisadora do grupo, as mesenquimais secretam substâncias que podem auxiliar o próprio tecido a se regenerar.
"As mesenquimais são usadas para tratar várias doenças, mas desconhecemos os mecanismo de ação. É preciso saber como elas participam e entender essa participação na regeneração de tecidos lesados. Com esse estudo, as terapias poderão ser mais seguras", disse Aparecida.
O trabalho com tumores e a reativação sanguínea já estão mais adiantados e devem ser os primeiros a passar por testes. A etapa sobre hemofilia (doença que impede o estancamento do sangue) deve investigar as do tipo A e B e transplantar para os camundongos os fatores genéticos que faltam no portador.
"Veremos se o camundongo hemofílico passará a produzir o fator e quanto tempo essa proteína permaneceria", afirmou Aparecida. A médica Sylvia Thomas, vice-presidente da Federação Brasileira de Hemofilia (FBH), considerou a notícia animadora, mas disse que os portadores não devem deixar o tratamento preventivo atual (feito com injenções semanais e disponível na rede pública de saúde) tendo em vista que a perspectiva desse tipo de estudo é de longo prazo.
Diabetes tipo 2 tem estudo
O Hemocentro também investiga o uso de células mesenquimais no combate ao diabetes. Implantado há cerca de um ano, o projeto terá a segunda fase de testes em animais iniciada no próximo semestre (a proposta é avaliar os efeitos da terapia em camundongos obesos e que tenha desenvolvido o tipo 2 da doença).
De acordo com o professor Júlio Cesar Voltarelli, coordenador do estudo, as análises com diabetes tipo 1 já estão adiantadas, mas não há conclusões ainda. "Tentamos descobrir como as mesenquimais atuam contra o diabetes. Nessa mesma linha, vamos começar outra análise animal para a do tipo 2, que aparece junto com a obesidade", disse Voltarelli.
A pesquisa é financiada pela Fundação de Auxílio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, ao qual o Hemocentro é ligado. (DC)