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Correio da Bahia

A ciência vista por quem a estuda (1 notícias)

Publicado em 14 de julho de 2004

Por Ana Cristina Pereira
Quem gosta de ler entrevistas do tipo pingue-pongue vai encontrar um conjunto substancioso no livro Prazer em conhecer - As entrevistas de pesquisa Fapesp. Tanto na quantidade quanto na qualidade. Organizada pela jornalista baiana Mariluce Moura, a coletânea reúne 26 entrevistas com pesquisadores de áreas variadas, publicadas entre 1999 e 2004 na revista Pesquisa Fapesp, editada mensalmente pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. "Nosso principal objetivo é tomar mais próximo o fazer científico", resume Mariluce, que comanda a noite de lançamento hoje, a partir das 19h, na Civilização Brasileira (Shopping Barra). As entrevistas foram divididas em três grupos: humanidades, ciências biológicas e física. É no primeiro que figuram os estudiosos mais conhecidos do público leigo, a exemplo do especialista em comunicação Muniz Sodré, os escritores e críticos literários Alfredo Bosi e Roberto Schwarz e o jornalista e empresário Otávio Frias Filho, diretor da Folha de S. Paulo. Mas basta uma olhada no perfil dos outros entrevistados para se ter uma noção da importância de seus trabalhos e, em quase todos, de uma vida inteira dedicada à pesquisa científica. O físico Marcello Damy, um dos criadores do precursor Instituto de Energia Atômica, em 1957, é um bom exemplo. Mariluce Moura, que assina a entrevista em parceria com Neldson Marcolin, o define como um cientista genial, com um currículo exuberante e contribuições reais para o conhecimento da física nuclear. "Tentamos, através das entrevistas, revelar desses pesquisadores importantes o que eles efetivamente produziram, seus processos de trabalho, o que eles buscam, como é ser um pesquisador", explica Mariluce. No texto elucidativo Encontro, diálogo e desvelamento, publicado na introdução do livro, Mariluce faz uma série de observações sobre as peculiaridades da entrevista pingue-pongue. Desde o interesse que ela sempre desperta à necessidade de uma preparação consistente do entrevistador, e da importância dele ter sensibilidade para deixar o entrevistado à vontade. No jornalismo científico, anota, a longa entrevista é quase sempre uma oportunidade de o entrevistado expor "suas contribuições para o avanço do conhecimento, apresentar sua visão de mundo, seu olhar crítico ao próprio universo de produção do conhecimento, explicar as polemicas teóricas e práticas em que se envolveu ou se viu envolvido, e falar das razões íntimas, profundas, que movem - seu evidente desejo de saber". O livro Prazer em conhecer, que inaugura a coleção Pesquisa Fapesp, foi lançado para marcar as comemorações da edição número cem da revista Pesquisa Fapesp (junho, R$8,50). Além de matérias especiais, como a reportagem avaliando os avanços da produção científica brasileira na última década, a edição traz sete contos, fazendo a ponte entre literatura, ciência e tecnologia. Os textos são assinados por Millôr Fernandes, Moacyr Scliar, Nelson de Oliveira, Ruy Castro, José Castello, Heloísa Seixas e Marcelo Gleiser. Criadora e editora da revista, Mariluce observa que ela é uma das poucas disponíveis no mercado que mostra mês a mês a produção científica brasileira. "Nos tomamos uma fonte para editorias especializadas", afirma. A revista, publicada com esse formado desde 99, nasceu a partir do boletim Notícias Fapesp, criado inicialmente para apresentar resultados de pesquisas em áreas variadas. A partir de 2002, passou a ser vendida em grandes bancas em todo o país (como nos aeroportos) e por assinaturas. "Nossa maior preocupação é sermos uma revista bem escrita, de leitura agradável, que traduza os conceitos científicos em linguagem de censo comum, mas sem perder o rigor da informação", diz. A revista pode ser conferida também na internet, no site www.revistapesquisa.fapesp.br.