Notícia

Jornal da Unesp

A ciência vai ao mercado (1 notícias)

Publicado em 01 de setembro de 2015

Por Cínthia Leone

A Faculdade de Medicina (FM) e o Instituto de Biotecnologia (IBTEC) da Unesp realizaram, de 27 a 29 de julho, o workshop internacional Inovação e Empreendedorismo em Biotecnologia, na cidade de Botucatu (SP). Organizado pelos professores Patricia Reis (FM e Unipex) e Deilson Elguide Oliveira (FM e IBTEC), o evento contou com um curso ministrado por Cynthia Goh, Richard MacAloney e David McMilen, da Universidade de Toronto (UofT), no Canadá. Os professores lideram na UofT um centro de inovação e empreendedorismo, o Impact Centre, que oferece treinamento e ensino de estratégias para transformar ciência em produtos ou serviços úteis para a sociedade.

O encontro foi dividido em duas fases: no primeiro dia, foi feito um panorama da inovação em biotecnologia no Brasil; já nos dois dias subsequentes, os convidados internacionais trabalharam com a audiência tópicos de inovação e empreendedorismo, bem como a relação entre o setor empresarial e as universidades no Canadá. O público foi formado por estudantes de graduação e pós-graduação, além de professores de diferentes áreas. As atividades do evento promoveram discussões sobre criação de novos produtos e serviços a partir de pesquisa básica, propriedade intelectual, além das principais dificuldades da interação da academia com a iniciativa privada.

“O encontro aponta para duas tendências da Unesp, que é a internacionalização da pesquisa e o incentivo à inovação e ao empreendedorismo”, afirmou a professora Patrícia, na abertura do encontro.

INOVAÇÃO UNESPIANA

O funcionamento da Agência Unesp de Inovação (AUIN) foi detalhado pelo professor Sydney José Lima Ribeiro, do Instituto de Química da Unesp em Araraquara. Além de deixar claro que a agência é uma parceira estratégica dos pesquisadores no momento de interagir com a indústria, oferecendo, sobretudo, assessoria jurídica especializada, Ribeiro destacou alguns diferenciais da AUIN em relação a suas congêneres no Brasil. “Nós temos um programa de aceleração da inovação nos moldes de projetos implantados nos EUA”, explicou.

Segundo o estudioso, o programa oferece investimento para que a pesquisa contemplada consiga avançar um estágio, como criação de protótipos ou a realização de provas de conceito ou testes clínicos, por exemplo. “No país, esse tipo de edital fornece mais confiança para o investidor que deseja licenciar a patente, porque ele tem mais garantias de que aquela inovação terá o desempenho esperado quando se tornar um produto”, ressaltou.

Lúcio Angnes, coordenador adjunto para Pesquisa em Inovação Tecnológica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), falou sobre o papel de diferentes linhas de fomento à inovação oferecidas pela fundação, como o programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE). “É a nossa única linha de financiamento que não exige titulação [mestrado ou doutorado] do proponente, mas apenas um projeto inovador e com bom fundamento tecnológico”, explicou.

Antônio Vicente da Silva, gerente da Incubadora Tecnológica de Botucatu, a Prospecta, destacou o ambiente da região propício à inovação, com a presença de instituições de ensino e pesquisa como a Unesp. Por sua vez, Renato Fonseca de Andrade, gerente de Inovação e Tecnologia do Sebrae-SP, informou que a instituição também adota a estratégia de incubadoras para projetos de alta tecnologia. “Felizmente, muitas universidades passaram a incluir o empreendedorismo no desenvolvimento de suas pesquisas e também no currículo dos cursos”, comemorou Andrade.

Um dos casos de transferência tecnológica mais emblemáticos da Universidade é protagonizado pelo Centro de Estudos de Animais Peçonhentos da Unesp em Botucatu (CEVAP). Lucilene Delazani, pesquisadora do Centro, falou sobre o desenvolvimento de dois produtos biotecnológicos: o selante de fibrina e o soro contra picada de abelha.

VISÃO DE MERCADO

Num clima descontraído e com muita participação da plateia, a professora de Química e Ciência Médica Cynthia Goh discutiu com os participantes o processo de invenção e as estratégias de negociação de propriedade intelectual para start-ups, como são chamadas as companhias recém-criadas e de base tecnológica. Cynthia é responsável pela direção do Impact Centre, voltado a impulsionar empresas originadas por estudantes de nível superior. “O principal gargalo dessa relação é que os pesquisadores não têm o olhar treinado para perceber a qual mercado seus inventos poderiam atender”, explica a pesquisadora, ressaltando que um treinamento específico deve ser oferecido aos estudantes na formação universitária. “Da mesma forma, os empresários nem sempre entendem qual a forma correta de usar o conhecimento produzido nas universidades.”

David McMilen falou sobre o desempenho de start-ups no mercado em expansão de biossensores, dispositivos que empregam algum componente biológico (bactérias, algas e tecido celular, por exemplo) para detectar toxinas ou outros elementos biológicos, como vírus e fungos.

Já o diretor de gerenciamento de tecnologia e empreendedorismo do Impact Centre, Richard McAloney, destacou o papel que agências de inovação e incubadoras tecnológicas devem ter dentro de uma negociação de transferência tecnológica. “Temos que buscar sempre situações em que todos ganhem: os investidores, os inventores, a universidade e a sociedade”, disse. “As inovações precisam partir da resposta para uma necessidade, precisam ajudar a construir produtos e sociedades melhores.”