Vicente Serejo
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Não leio Joel Pinheiro da Fonseca para decifrar os meandros íntimos da economia, sua formação inicial, mas como um mestre em filosofia pela Universidade de São Paulo. Ele sabe entrelaçar e desentrelaçar as alças da política, quando se atam e desatam com a comunicação no processo formador da opinião pública. Fica mais fácil, pelo menos para o leigo, entender o atrito das duas esferas, se a compreender é, pois, mais profundo e vai além do apenas entender.
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Ganho em vê-lo aplicar raciocínios convencionalmente desprezados pelos analistas mais apressados e superficiais, principalmente partidários. Joel não se deixa contaminar nem pelos resmungos do contra nem pelo silêncio conivente de quem, por interesse ou temor, se deixa cair no favor. Ele põe o dedo na ferida. Enfia o olho nas contradições, sem aquele pedantismo estéril da visão universitária, como se o conhecimento não tivesse como fonte a vida comum.
Aliás, pontiagudo como ponta de suvela, Joel perfura com leveza e talento a linguagem fechada, concebida para iniciados. Os estudos acadêmicos, feitos nos talhes da monografia, da dissertação ou da tese, esnobam uma sociedade majoritariamente composta de leitores comuns. São seres de uma bolha, escrevem para os que convivem na bolha e são lidos pelos vivem na bolha. Desprezam o compromisso com a sociedade que mantém integralmente as universidades.
O conceito de bolha não é invenção deste cronista e que também não nega as grandes e valiosas exceções. Está numa página da revista da Fundação de Pesquisa de São Paulo, FAPESP, a resenha assinada pela professora Elizabeth Balbachjevsky, da USP, sobre o livro “Reflexões sobre a educação superior: a Universidade e seu compromisso com a Sociedade”, do professor Marcelo Knobel que, por sorte dele próprio, tem todos os títulos acadêmicos e pode criticar.
Depois de mostrar o acerto das reflexões de Knobel, a professora fecha o texto de sua resenha com uma citação do autor: “O mundo se transforma de maneira avassaladora, e as universidades têm de acompanhar essas mudanças ou ficarão obsoletas”. É bom lembrar aos mais espevitados que o professor Marcelo Knobel tem experiência no trato com a ciência, como doutor em física, e como reitor da Unicamp com sua gestão consagrada por toda a comunidade.
Como se não bastasse, lembremos o artigo de Danilo Thomaz, na Folha de S. Paulo, jornalista especializado e pós-graduado em ciência política, quando afirma que a universidade precisa revisar com urgência os “laços com graduandos e discutir a sério relações de trabalho”. Para ele, a Capes “premia uma produtividade alienante, alheia ao diálogo necessário com a sociedade que a universidade nem sempre - salvo em áreas como a saúde - quer ter”. No alvo.
PALCO
VAZIO - A greve dos professores encerrou e sem precisar requisitar o apoio do parlamento estadual. O que prova, numa hora de tensão, mais do que a ausência de peso, a queda no vazio.
PAPO - Sábado, depois de amanhã, na Universidade Livre do Sebo Vermelho, a partir das 9h, Humberto Hermenegildo fala sobre o modernismo e o regionalismo neste Rio Grande do Norte.
AGENDA - No sábado seguinte, dia 22, o Sebo Vermelho lança a terceira e definitiva edição do livro Seridó Sec. XIX Fazendas & Livros, de Oswaldo Lamartine e do padre João Medeiros.
HUMOR - Do chargista e desenhista Venes Caetano na última página da Carta Capital, numa invertida antológica, flagrando a mesmice das efemérides políticas: “100 dias sem Bolsonaro”.
TACO - Por falar nos 100 dias de Lula, este é o tema do artigo de duas páginas do professor Sidarta Ribeiro, da UFRN, também na Carta Capital. Aposta no sonho de um Brasil mais justo.
RÉGUA - As oscilações da bolsa e cotações do dólar e real, positivas e negativas, provam que não são frutos de declarações políticas felizes ou infelizes. São da natureza volúvel do mercado.
POESIA - Do poeta Pedro Lucas Bezerra, uma revelação, no seu ‘Itinerário Dadaísta’, esses belos versos assim: “Antes da tarde / mergulharei na noite serena / com a máscara do medo”.
LUTA - De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, vigiando as sobras que escondem o dia nos confins sujos do beco nas horas mortas: “A vitória só encerra a luta para os amadores”.
CAMARIM
EFEITO - O prefeito Álvaro Dias compreendeu que o transporte urbano é a maior interface de relação da Prefeitura com o grande contingente populacional da cidade. E que a ineficiência do serviço pode trazer desgaste para sua administração, herdeira de um caos sem regulamentação.
HERANÇA - Quem aplicar uma pesquisa vai constatar que já apagou da memória coletiva da cidade o tempo em que a Prefeitura de Natal tentou a concorrência das linhas. Hoje são eles, os empresários, que pressionam. Uma atividade que merecia receber subsídios do poder público.
EFEITO - O transporte público é serviço essencial para o ir e vir do trabalho, escola e lazer. A Prefeitura é o poder concedente e, portanto, responsável pela busca de qualidade que atinge a camada mais numerosa e carente da população. Uma bomba relógio no Palácio Felipe Camarão. Que índole!
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