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8% dos atletas infectados pelo coronavírus desenvolvem sintomas persistentes, aponta estudo da USP (2 notícias)

Publicado em 31 de maio de 2022

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Após analisar 43 artigos científicos que descrevem os impactos da COVID-19 em atletas, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) concluíram que, embora a doença seja assintomática ou leve na grande maioria dos casos (94%), algo em torno de 8% dessa população desenvolve sintomas persistentes, que podem afetar o desempenho e até mesmo retardar o retorno aos treinos e competições.

 19/14819-8Ao todo, foram analisados dados de 11.500 atletas, incluindo amadores e profissionais de alto rendimento. O trabalho contou com financiamento da FAPESP, com resultados divulgados sexta-feira (27/05) no British Journal of Sports Medicine.

“Estudamos tanto o quadro agudo da doença, buscando avaliar as manifestações e a gravidade, como também os sintomas persistentes, registrados depois que o vírus já havia sido eliminado do organismo. É algo um pouco mais abrangente do que aquilo que se convencionou chamar de COVID longa”, explica Bruno Gualano, professor da Faculdade de Medicina (FM-USP) e coordenador da investigação. “Trata-se de um verdadeiro compêndio sobre o tema, que pode orientar profissionais de saúde que trabalham com essa população.”

De acordo com o artigo, 74% dos atletas apresentaram sintomas na fase aguda, sendo os mais comuns anosmia/ageusia (46,8%), febre/calafrio (38,6%), dor de cabeça (38,3%), fadiga (37,5%) e tosse (28%). Somente 1,3% evoluiu para a forma grave da doença.

Gualano ressalta que o índice de casos graves é semelhante ao observado na média da população. Já o percentual de casos assintomáticos é mais difícil de ser comparado. “Muitos infectados com sintomas leves passam despercebidos na população em geral. Já entre os atletas, que passam por avaliações frequentes, esses casos tendem a ser mais diagnosticados”, diz.

Na avaliação do pesquisador, os achados mais inovadores da pesquisa se referem ao que ocorre após a fase aguda. Entre 3,8% e 17% dos atletas (intervalo de confiança com valor médio de 8%) desenvolvem sintomas persistentes, entre eles anosmia/ageusia (30%), tosse (16%), fadiga (9%) e dor no peito (8%).

“Observamos que 3% desenvolvem intolerância ao exercício. Não é algo grave, que ameace a vida, mas no contexto esportivo pode ser um problema. No caso dos atletas de elite, qualquer diferença na preparação pode determinar quem sobe ao pódio, tamanha a concorrência”, comenta Gualano.

Protocolos personalizados

Os protocolos adotados pelas confederações esportivas em geral autorizam o retorno à prática cinco dias após o início dos sintomas causados pelo SARS-CoV-2. Na avaliação de Gualano, porém, o estudo mostra que nem todos os atletas estarão aptos a retomar o treinamento nesse período.

“O ideal é o atleta passar por uma avaliação criteriosa e, em caso de sintomas persistentes, talvez seja necessário modular a carga ou até mesmo adiar o retorno até que o quadro se resolva”, afirma.

Embora estudos anteriores tenham sugerido que a COVID-19 aumentaria o risco de miocardite nessa população, a revisão conduzida pelo grupo da FM-USP não confirmou a hipótese.

“Nos estudos em que havia algum tipo de grupo-controle não foi possível observar uma relação de causalidade entre a infecção e o problema cardíaco. Uma possibilidade é que os atletas já tivessem miocardite, que só foi descoberta por causa dos exames de imagem feitos após a COVID-19. Porém, a ausência de evidência não significa que essa relação não exista. Mais estudos devem ser feitos a respeito”, diz.

Gualano aponta outras lacunas nesse campo do conhecimento que ainda precisam ser preenchidas por futuras pesquisas. Uma delas é o impacto da ômicron e suas subvariantes nos esportistas, uma vez que a maioria dos artigos é anterior ao surgimento das novas cepas do SARS-CoV-2.

“Aparentemente, um número menor de atletas tem nos procurado com sintomas persistentes, mas não sabemos se é por causa da variante, da vacinação ou da imunidade prévia. Também não conhecemos a resposta vacinal às subvariantes da ômicron. Precisamos continuar estudando os atletas nesse novo contexto da pandemia”, argumenta.