Um novo estudo brasileiro concluiu que cerca de 58 mil pessoas com mais de 60 anos não morreram por Covid-19 por conta da vacinação ocorrida nos primeiros meses da campanha, entre janeiro e agosto de 2021. O número, porém, poderia ser maior: se o início da imunização estivesse no mesmo ritmo verificado oito semanas depois, outras 47 mil vidas seriam poupadas.
O efeito da vacina em quadros graves da doença nos idosos também foi analisado pela pesquisa publicada nesta segunda (21) na revista Lancet Regional Health Americas. Segundo as estimativas, 167 mil deixaram de ser hospitalizados graças aos fármacos.
No entanto esse número poderia subir para cerca de 272 mil com a aplicação de doses dos imunizantes no nível observado oito semanas após o início.
Para Leonardo Ferreira, primeiro autor do artigo e pesquisador do IFT (Instituto de Física Teórica) da Unesp, o estudo mostra que, mesmo com percalços, a vacinação foi considerável para conter fatalidades por Covid. "Se tivéssemos feito mais rapidamente e de forma mais organizada, teríamos reduzido mais ainda", afirmou.
A vacinação contra a Covid-19 no Brasil começou em janeiro, período simultâneo ao início das infecções associadas à variante gama. A campanha, no entanto, só ganhou tração nos meses posteriores, resultando em um impacto pequeno na redução de mortes e internações causadas por essa cepa.
Segundo os autores, a imunização no Brasil teve um papel decisivo contra fatalidades a partir de maio, durante a onda da variante delta. Por isso, a aplicação mais acelerada no início da campanha representaria uma queda nos quadros críticos da doença antes do que foi visto.
Mas, para chegar a esse dado, o impacto da vacinação da forma como foi realizada entre janeiro e agosto foi comparada com um cenário em que não tivesse aplicação de doses. Então, os pesquisadores observaram o quanto a vacina diminuiu as mortes e as internações por Covid-19 em idosos.
Além disso, dois cenários hipotéticos em que a vacinação teria níveis mais rápidos foram considerados. No primeiro, a quantidade de doses aplicadas no começo da campanha seria semelhante ao que foi verificado somente quatro semanas depois. Já o segundo cenário contava com o nível de aplicações de oito semanas posteriores já no início da vacinação.
De forma parecida, esses cenários foram comparados com aqueles em que não houve vacinação e também com os números de mortes e hospitalizações evitadas com a campanha da forma como ela ocorreu.
Foi a partir dessas comparações que a pesquisa concluiu o montante de mortes (47 mil) e de quadros graves (105 mil) que não seriam registrados caso a aplicação dos fármacos ocorresse de forma mais ágil.
Ferreira disse que o Brasil tinha capacidade para aumentar a taxa diária de imunizados. O pesquisador cita que, no começo da campanha, cerca de 100 mil doses foram aplicadas por dia.
O país, porém, já tem um histórico de aplicações diárias de 1 milhão de doses. A própria campanha contra a Covid depois contou com números dessa ordem.
"O que limitou nossa capacidade de vacinação foi a pouca procura de vacina por parte do governo federal", afirmou.
Segundo ele, o governo poderia ter colaborado com o Instituto Butantan para a aquisição de mais doses da Coronavac. Outra saída seria comprar com maior velocidade outros fármacos, como da Pfizer.
ERROS REPETIDOS
Embora a vacinação contra a Covid tenha aumentado, o cenário gera preocupação pelo aparecimento de novas subvariantes da ômicron. Uma delas, a BQ.1, está associada com aumento de casos da doença em vários países, como o Brasil.
Vacinas de modelo bivalente -que contém a cepa original e a ômicron- já são aplicadas nos EUA, Canadá e Europa. Os fármacos atualizados registram maior eficácia para barrar novos casos da doença por serem formulados com as subvariantes BA.1 e BA.5 (da ômicron), as duas formas do vírus hoje com maior circulação.
O Brasil, no entanto, ainda não conta com os imunizantes. A previsão é que isso pode ocorrer só em 2023, atrasando a atualização do calendário vacinal -algo que preocupa Ferreira. "A gente está repetindo os mesmos erros que fizemos há um ano e meio."
No estudo que assina, observou-se que o retorno econômico com a redução de mortes e hospitalizações por vacina eram basicamente o mesmo dos custos da compra do imunizante. A vantagem, no entanto, pende para os imunizantes por evitarem fatalidades e reduzirem casos de sequelas por Covid-19.
A conclusão, para o pesquisador, é óbvia: "Não tem motivo para não comprar vacina."
Fonte: Folhapress