Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil fica no prédio do Bunkyo
Aqueles que têm mais de 30 anos devem se lembrar de uma das principais atrações expostas no 7º andar do Bunkyo. Tratava-de um poraquê (peixe-elétrico de água doce) exposto na entrada do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil. O insólito animal despertava a curiosidade dos visitantes, que ficavam atentos para o medidor de descargas elétricas no topo do aquário, que variava de O até 700 volts. Essa é apenas uma das várias histórias associadas ao museu ao longo de sua existência.
No ano das comemorações do centenário da imigração japonesa, uma das maiores referências com relação à preservação e à divulgação da saga dos imigrantes em terras brasileiras completa 30 anos. Grande símbolo das comemorações do 70º aniversário da imigração, o Museu Histórico de Imigração Japonesa no Brasil (MHIJB), havia sido idealizado em 1973, a partir da criação da Comissão de Conservação de Material Histórico da Colônia instalada no Bunkyo.
O início das obras deu-se a partir do início de 1976, sob a supervisão da Comissão de Construção do Museu Histórico de Imigração Japonesa no Brasil, presidida por Guenitiro Nacazawa. Ao mesmo tempo, fazia-se uma intensa campanha na comunidade para coleta de material para seu futuro acervo e de doações em dinheiro. Nas palavras de Nacazawa, o museu representava um marco, não só para a comunidade japonesa aqui residente, mas também para a sociedade brasileira, tomando-se um referencial importante para as gerações seguintes.
Sua construção deu-se graças aos subsídios do governo japonês, de contribuições de particulares, da doação da Associação de Desenvolvimento de Navegação do Japão e coleta feita entre a comunidade japonesa no período. Estima-se que, na época, o custo total da obra, que abrangia originalmente o 7º e o 8º andares do prédio do Bunkyo, tenha sido de 370 milhões. A concepção geral do projeto ficou a cargo de Tadao Umesao, diretor do Museu Nacional de Etnologia do Japão; e a construção, a cargo da firma Tanseisha, especialista em edificações e museus no Japão.
A inauguração ocorreu no dia 18 de junho de 1978, com as ilustres presenças do então príncipe-herdeiro Akihito e da princesa Michiko, atuais imperadores do Japão e do presidente da República na época, general Ernesto Geisel.
Considerado possuidor do mais completo acervo sobre a história dos imigrantes aqui radicados, o museu possui cerca de 28 mil documentos, entre registros dos navios que trouxeram os imigrantes (Marus), relatos de trabalho nas fazendas de café, fotos, quadros, mapas e vídeos, além de 4,8 mil artefatos de importância cronológica que contribuem para formar um painel valioso sobre a história dos cem anos de imigração japonesa no Brasil. A quase totalidade dos objetos que perfazem seu acervo foi adquirida a partir de doações de todo o Brasil, principalmente oriundas do Estado de São Paulo.
Atualmente, o museu está dividido em três andares (7º, 8º e 9º andar, inaugurado em 2000). A exposição baseia-se em caráter cronólogico, a partir de temas que são referência na história dos imigrantes japoneses. Destaque para as réplicas dos navios de imigrantes Kasato Mame Brasil Maru, para o documento original do Tratado de Amizade, de Comércio e de Navegação Brasil-Japão, assinado em 1895, e a réplica de uma moradia em madeira daqueles imigrantes japoneses que se aventuraram nas frentes pioneiras do Estado de São Paulo.
Rogério Dezem é historiador e pesquisador da história dos imigrantes japoneses no Brasil, Autor de Shindô Renmei: Terrorismo e Repressão (Série Inventários Deops; São Paulo, AESP 2000) e Matizes do Amarelo: a gênese dos discursos sobre os orientais no Brasil (1878-1908) (São Paulo. Associação Editorial Humanitas/Fapesp, 2005).