Depois de dois dias de evento, "implementar com urgência um projeto de reindustrialização inserido na indústria 4.0 para aumentar o nível de automação e possibilitar novas formas de organização dos sistemas de produção", seria um resumo do 1º Congresso Brasileiro de Indústria 4.0, realizado pela Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, em parceria com o Ciesp - Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, o Senai - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de São Paulo e a ABDI - Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Um dia de discussão, outro de visita à planta piloto montada pelo Senai para estudo na prática, na unidade de São Caetano.
A "Manufatura Avançada" tem promovido a indústria norte-americana e a estratégia "Indústria 4.0", a indústria alemã. O Brasil precisa de uma estratégia para alavancar a indústria brasileira na quarta revolução industrial.
Segundo José Ricardo Roriz Coelho, vice-presidente da Fiesp e diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia da instituição, o Brasil enfrenta um forte processo de desindustrialização, como é definida a redução da capacidade industrial de um país.
A participação da indústria brasileira na indústria mundial caiu praticamente pela metade nos últimos 20 anos, de 3,47% em 1995 para 1,84% em 2016. Já a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro este ano foi de 11,1 %, atingindo o mesmo patamar de 1953, ponderou Roriz.
"A participação da indústria no PIB brasileiro regrediu 65 anos. E, por conta disso, a produtividade brasileira estagnou", explicou o executivo.
Em 1980, quando a participação da indústria no PIB brasileiro atingiu o patamar de 20,2%, a produtividade brasileira em comparação com a dos Estados Unidos chegou a 40,3%. Em 2015, porém, caiu para 24,9% - mesmo índice de 1950. Com a queda da participação da indústria no PIB brasileiro, a produtividade do país em comparação com a dos EUA também regrediu quase 65 anos. Enquanto o país vem passando por um aprofundamento muito grande do processo de desindustrialização, economias de 'alta e média intensidade tecnológica, como Estados Unidos, Alemanha, Japão e China, têm feito grandes investimentos para acelerar a migração para a indústria 4.0.
Uma pesquisa realizada em 2016 pela consultoria PWC, com duas mil empresas em 26 países, apontou que elas investirão em indústria 4.0 o equivalente a US$ 907 bilhões por ano até 2020-cerca de 5% de suas receitas. Com isso, essas empresas esperam obter uma redução de US$ 421 bilhões em seus custos de operação e obter ganhos de receita equivalente a US$ 493 bilhões por ano. A Europa, por exemplo, planeja investir cerca de € 1,35 trilhão ao longo dos próximos 15 anos em indústria 4.0; deste total, € 250 bilhões deverão ser aportados por empresas alemãs; a China planeja investir € 1,8 trilhão nos próximos anos para modernizar sua indústria. Então, para poder competir com esses países, o Brasil precisa se reindustrializar, já focando em indústria 4.0.
Mas o Brasil precisa superar obstáculos como o de melhorar sua infraestrutura tecnológica, criar linhas de financiamento apropriadas e desenvolver competências e capacitações em tecnologias cruciais para implementação da indústria 4.0, como robótica avançada, manufatura aditiva - construção de objetos por impressão 3D - , realidade aumentada e materiais funcionais, apontaram os participantes do evento.
Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico Administrativo da Fapesp, ressaltou que já existe uma base mínima de competências instalada em universidades e em empresas relacionadas à manufatura avançada e Internet das Coisas e avaliou que o Programa Fapesp Pesquisa lnovativa em Pequenas Empresas (PIPE) tem apoiado um expressivo número de pequenas empresas nascentes de base tecnológica com projetos em áreas relacionadas à manufatura avançada- cerca de 45 das empresas apoiadas pelo programa desenvolvem projetos focados em manufatura avançada.
Segundo Pacheco, há um crescente interesse de startups apoiadas pelo PIPE em desenvolver projetos relacionados à automação e inteligência artificial, além de fotônica, robótica e digitalização. E essas competências tecnológicas têm sido desenvolvidas em São Paulo, ainda que novas competências precisem de maior atenção - digitalização, realidade aumentada, impressão 3D e materiais inteligentes ou funcionais, como metais leves e de alta resistência, ligas de alto desempenho, cerâmicas avançadas, compósitos e polímeros. Além da Fapesp, falaram sobre isso Jorge Almeida Guimarães- Diretor-Presidente da Embrapii -, Luiz Augusto de Souza Ferreira - Presidente da ABDI -, Oswaldo Massambani - Superintendente Regional da Finep - , e Milton Luis de Melo Santos - Diretor Presidente da Desenvolve SP.
Luiz Augusto de Souza Ferreira, Presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial - ABDI moderou as discussões que se seguiram às apresentações dos convidados Rafael Moreira- assessor especial para Indústria 4.0 do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços - , Byoung-Gyu YU - Presidente do Instituto Coreano para Economia Industrial e Comércio -, Rainer Stark - Diretor da Divisão de Criação de Produtos Virtuais do Instituto alemão Fraunhofer - , Karin Mayer Rubinstein - Presidente e CEO da lATI Israel Advanced Technology lndustries -, Lynne McGregor - Especialista em Manufatura de Alto Valor Agregado na Instituição lnnovate UK -, Suresh Kannan - Membro do Industrial Internet Consortium (IIC) e Presidente da Digiblitz - , e Yutaka Manchu - Secretário-Geral Adjunto do Conselho de Revolução Robótica do Japão e especialista em Internet das Coisas Industrial.
Para compartilhar experiências e perspectivas, reuniram-se Osvaldo Lahoz Maia - Gerente de Inovação e de Tecnologia do Senai-SP - , Marcos Pinto do Amaral - Gerente da Engenharia de Manufatura e Novos Programas da Volkswagen - , Eduardo Almeida - Presidente para a América Latina da Unisys - , e Marcos Giorjiani, Diretor Geral da Beckhoff.
As discussões deixaram a certeza de que a indústria nacional precisa de apoio institucional porque a Indústria 4.0 não é apenas a conectividade entre máquinas, sistemas e negócios. Isso já existe, em diferentes graus. A disrupção acontece mesmo na manufatura aditiva, que deve deslocar a produção para o local de uso e, mais difícil, tornar possível o lote de um produto personalizado, a customização em escala!