O patrimônio cultural é um elemento-base para promover o desenvolvimento social e econômico. O seu pleno potencial, como motor de inovação e de crescimento, permanece pouco aproveitado. Para superar esta lacuna é necessário abordar as ligações complexas entre recursos culturais habituais e políticas culturais – patrimônio cultural, instituições e serviços culturais dinâmicos – e as oportunidades proporcionadas por novas exigências e necessidades sociais[1]. Isto implica na necessidade de envolver atores que trabalham no campo do patrimônio cultural com aqueles que desenvolvem e implementam tecnologias avançadas sintonizadas com a nova civilização em que vivemos hoje. Esta nova civilização é o resultado do impacto sobre a sociedade das TIC nas suas várias vertentes – a Internet, a Web, as Novas Mídias, os serviços móveis celulares e a IoT (Internet das Coisas).
O Brasil e a União Europeia[2] concordaram em aumentar a cooperação entre si. Desde que a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) assinou o primeiro acordo de cofinanciamento[3] em 2015 agências de outros sete estados fizeram o mesmo. Tais acordos estabelecem um ambiente propício para iniciativas conjuntas de instituições brasileiras e europeias.
Em março de 2019 será realizada em São Paulo a 1ª EVA/Minerva Brasil: Conferência Internacional de Tecnologias Avançadas para a Cultura. Partirá de experiências da conferência similar que se realiza em Jerusalém, anualmente, desde 2004. A conferência será um encontro de comunidades profissionais do Brasil e da União Europeia. Elas vão trocar experiências, aprender umas com as outras e construir projetos conjuntos. Isto foi alcançado pela conferência de Jerusalém para Israel e o mesmo pode ser alcançado pela conferência no Brasil. A conferência internacional no Brasil será um evento de dois a três dias com sessões e pistas dedicadas a comunidades profissionais específicas e assuntos transversais de interesse. Comunidades profissionais envolvidas participarão com sessões dedicadas aos Museus, Bibliotecas, Arquivos, Produtores de Multimídia e Professores interessados em Humanidades Digitais.
A conferência será um encontro de comunidades profissionais do Brasil e da União Europeia. Elas vão trocar experiências, aprender umas com as outras e construir projetos conjuntos
Os assuntos transversais incluirão, por exemplo, questões como: Exposições e Narrativas Digitais; Tecnologias móveis no Patrimônio Cultural; Modelos de Dados – incluindo CIDOC (Modelo de Referência Conceptual) e EDM (Europeana Data Model); Representação de objetos 3D; Dados abertos vinculados; Metadados; IPR (direitos autorais); Publicação aberta; Ciência Cidadã e Gerenciamento de voluntários.
A conferência proprocionará um mapa das tecnologias de ponta para os interessados em aplicar tecnologias avançadas na cultura. Alguns exemplos da EVA/Minerva International Jerusalem Conference on Advanced Technologies for Culture permitem uma visão concreta dos elementos que constituirão a conferência em São Paulo[4].
Os novos modos pelos quais Museus confrontam o novo ambiente digital são uma constante desde a primeira conferência em 2004. Por exemplo, a inauguração do Portal Nacional dos Museus de Israel[5] teve lugar na conferência de 2017. Projetos como AthenaPlus organizaram Laboratórios para capacitar o pessoal dos museus para utilizar seus instrumentos de código aberto, como o CMS MOVIO[6], para criar exposições digitais on-line. O coordenador do Creative Museum[7] é uma presença constante na EVA/Minerva Jerusalem – o projeto explora as conexões entre organizações culturais e suas comunidades, capitalizando o surgimento de tecnologias digitais novas e democratizadas.
Vivemos imersos na narrativa e a Internet transformou dramaticamente a relação entre narrativa e tecnologia. Seções e apresentações de histórias digitais (Digital Storytelling)[8] têm sido uma presença constante nas conferências EVA/Minerva. A Europeana[9] com seus 53 milhões de objetos digitais é a grande Biblioteca Digital do mundo. A iniciativa geminada, a Biblioteca Pública Digital da América, adotou seu modelo de dados. A construção de projetos é uma característica constante da EVA/Minerva Jerusalem: Europeana Fashion[10]; Europeana Photography[11]; Judaica Europeana[12]; Europeana Creative[13]; Athena Plus[14]; Europeana Sounds[15] são apenas alguns deles.
As questões relacionadas com a digitalização de arquivos incluem iniciativas como a Interpares[16] (Pesquisa Internacional sobre Registros Autênticos Permanentes em Sistemas Eletrônicos) e Preforma[17] (Preservation Formats for culture information/e-archives), que tratam da preservação a longo prazo de Objetos Digitais: veja suas apresentações em 2016[18].
A Conferência EVA/Minerva teve um papel fundamental na introdução das abordagens de Humanidades Digitais e no aprimoramento da colaboração entre as Instituições de Educação Superior e o Setor Criativo e Cultural. Desde 2012, isso se tornou uma constante no programa[19].
Políticas da UE sobre tecnologias avançadas para o setor criativo e cultural
Os atores políticos na área da cultura podem ser bem informados pelas políticas da UE nos últimos 18 anos. A Conferência EVA/Minerva é um resultado das políticas iniciais da União Europeia (UE) relativas à digitalização. O NRG[20] (Grupo de Representantes Nacionais) foi estabelecido em 2001 como “um grupo de direção para as atividades relacionadas à coordenação de políticas e programas de digitalização, com especial ênfase nos recursos culturais e científicos e na contribuição das instituições culturais públicas”. Com uma missão declarada para monitorar o progresso na implementação dos Princípios de Lund, MINERVA (Rede Ministerial para a Valorização das Atividades de Digitalização) sob a liderança do MiBAC, Ministério da Cultura da Itália, atuou como secretaria, braço operacional do NRG. O Member States’ Expert Group on Digitisation and Digital Preservatio[21] seguiu-o e, em seguida, a Fundação Europeana[22] foi criada para conduzir este processo.
A CE emitiu a comunicação “Fortalecimento da Identidade Europeia através da Educação e da Cultura”[23] em novembro de 2017. A reunião dos líderes da UE em Gotemburgo explorou como as políticas de educação e cultura da UE podem ter um maior impacto na criação de empregos, crescimento econômico e justiça social durante todo o período[24]. Adotaram a estratégia # Digital4Culture, que visa garantir um acesso mais amplo e democrático à cultura graças a ferramentas digitais que melhoram o apelo do patrimônio cultural, como, por exemplo, coleções de arte online com a devida curadoria e mecanismos de busca facilmente acessíveis.
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REFERÊNCIAS
[1] Smart Specialization and Cultural Heritage: an engine for innovation and growth: http://tinyurl.com/smart-ssp>.
[2] EU – BRAZIL renewed cooperation on research and innovation: http://ec.europa.eu/research/iscp/pdf/policy/eu-brazil_%20joint_communique_2018.pdf>.
[3] Roadmap for EU – Brazil S&T cooperation: https://ec.europa.eu/research/iscp/pdf/policy/br_roadmap_2017.pdf>.
[4] EVA/Minerva Jerusalem – Agenda and Presentations: http://minervaisrael.org.il/jerusalem-conferences/>.
[5] Museums in Israel, National Portal: http://www.museumsinisrael.gov.il/en/Pages/default.aspx>.
[6] MOVIO: http://www.athenaplus.eu/index.php?en/210/athenaplus-tools>.
[7] Creative Museum Project: http://creative-museum.net/>.
[8] Telling Stories with Digital Content and Tools: https://www.slideshare.net/evaminerva/b3-dov-winernarrativesevaminerva2013>.
[9] Europeana: http://pro.europeana.eu>; Europeana – we transform the world with culture: https://www.slideshare.net/evaminerva/a3-marco-rendinaeuropeanawetransformworld>.
[10] Co-creation in Europeana Fashion: https://www.slideshare.net/evaminerva/e5-marco-rendinacocreationmethodologyeuropeanafashion>.
[11] Europeana Photography: https://www.europeana.eu/portal/en/collections/photography>.
[12] Judaica Europeana: http://www.judaica-europeana.eu/>.
[13] Europeana Creative: https://pro.europeana.eu/project/europeana-creative-project>.
[14] Athena Plus: http://www.athenaplus.eu/>.
[15] Europeana Sounds: https://pro.europeana.eu/project/europeana-sounds>.
[16] Interpares: http://www.interpares.org/>.
[17] Preforma: http://www.preforma-project.eu/>.
[18] http://minervaisrael.org.il/evaminerva-2016-presentations/>.
[19] EVA/Minerva presentations 2012: http://2012.minervaisrael.org.il/>. A Network for Judaica Digital Humanities: https://tinyurl.com/2013-dh-dw>; VRE Virtual Research Environments: https://www.slideshare.net/dovw/vre-cut>.
[20] http://www.minervaeurope.org/structure/nrg.htm>.
[21] http://ec.europa.eu/information_society/activities/digital_libraries/mseg/index_en.htm>.
[22] https://pro.europeana.eu/our-mission/who-we-are#europeana-foundation>.
[23] Strengthening European Identity through Education and Culture, The European Commission’s contribution to the Leaders’ meeting in Gothenburg,17 November 2017: https://ec.europa.eu/commission/sites/beta-political/files/communication-strengthening-european-identity-education-culture_en.pdf>.
[24] The European Commission’s contribution to the Leaders’ meeting in Gothenburg, 17 November 2017: https://ec.europa.eu/commission/publications/eu-leaders-meeting- education-culture_en>.
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AUTORES
Dov Winer é psicólogo formado na Universidade Hebraica de Jerusalém, especializado em Online Education and Training na Universidade de Londres. Coordena o Fórum Minerva para a Herança Cultural Digital em Israel e é o diretor científico da Judaica Europeana: makash.org.il/dovwiner.htm>.
Paulo Henrique Martinez é professor no Departamento de História da Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Universidade Estadual Paulista.
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