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UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas

15 anos de inovação (1 notícias)

Publicado em 06 de agosto de 2018

Como em um quebra-cabeça, ao resgatar a história da Inova Unicamp, desde sua concepção até os dias atuais, todas as peças parecem se encaixar com o que acontecia tanto na Universidade, como no contexto da ciência, tecnologia e inovação no Brasil. Uma combinação ideal que permitiu ao Núcleo de Inovação Tecnológica da Unicamp, que completa 15 anos de existência em 2018, consolidar-se como referência nacional.

“Entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000, a inovação começava a entrar na agenda de políticas estratégicas. Aos poucos, discutia-se a importância de essas ações tornarem-se realmente política de Estado. O Brasil já possuía um sistema de ciência e tecnologia muito forte, comparado ao de outros países da América Latina”, explica Maria Beatriz Bonacelli, professora do DPCT (Departamento de Política Científica e Tecnológica) da Unicamp e também membro do grupo de discussões criado pelo então reitor Carlos Henrique de Brito Cruz para elaboração do modelo da Agência de Inovação da Unicamp.

“Em países como o Brasil, as universidades são ponto central desse ecossistema. Então, recaiu sobre nós o peso importante da validação dessas atividades e como promover uma maior interação universidade-empresa”, completa a docente.

Maria Beatriz Bonacelli, professora do DPCT-Unicamp: “Entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000, a inovação começava a entrar na agenda de políticas estratégicas”

Segundo o professor Carlos Henrique de Brito Cruz, atual diretor-científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o assunto foi discutido durante vários meses e houve importante participação do DPCT e também do professor Carlos Américo Pacheco, que à época tinha acabado de deixar a secretaria-executiva do Ministério de Ciência e Tecnologia.

“A Unicamp já demonstrava pioneirismo por ter iniciativas ligadas a essas áreas antes mesmo da Inova Unicamp surgir. No entanto, podemos dizer que essas ações eram muito reativas. Esperava-se, com a criação do Núcleo de Inovação Tecnológica, uma postura mais dinâmica para criar essa demanda na indústria”, afirma a professora Maria Beatriz.

“Isso não quer dizer que a Unicamp fizesse perfeitamente essa atividade, mas sim que vinha explorando tais possibilidades há muitos anos, desde sua fundação. Ao criar a Inova Unicamp, o objetivo era elevar o patamar da ação da universidade na busca por parcerias com a sociedade, incluídos aí órgãos de governo e empresas, em atividades conectadas à pesquisa realizada na universidade”, completa Brito Cruz.

Foi criada então, no dia 23 de julho de 2003, a Agência de Inovação Inova Unicamp, o Núcleo de Inovação Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas. Anterior à Lei de Inovação, que só foi promulgada em 2004, a estrutura era baseada em três áreas principais: propriedade intelectual, parcerias e convênios, e parques e incubadoras.

“É interessante observar que mesmo com as mudanças verificadas ao longo dos anos e o escopo de atuação da agência se ampliando, esses três pilares se mantêm. À época, não se imaginava ter um parque tecnológico dentro do campus, mas, na verdade, sermos um agente para fomentar e apoiar esse tipo de iniciativa no Estado”, relembra o atual diretor do Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, Eduardo Gurgel do Amaral.

Considerada um projeto arrojado, a Agência de Inovação se institucionalizou com a possibilidade de seu diretor-executivo ser um profissional de mercado, para ter a compreensão do mundo empresarial e facilitar as interações com a Universidade. Foi então convidado para ocupar a posição o engenheiro agrônomo Alberto Duque Portugal, que presidira entre maio de 1995 e janeiro de 2003 a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

O professor Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da Fapesp e responsável, quando reitor da Unicamp, pela criação do grupo que elaborou o modelo da Inova: “O objetivo era elevar o patamar da ação da universidade na busca por parcerias com a sociedade”

“Essa era uma ruptura considerando a política de governança da Universidade. É por isso que sempre reforço o quanto esse projeto da Inova Unicamp foi muito moderno e ousado. Era difícil ter uma pessoa de fora, considerando a cultura da Universidade e todo o processo de validação pelo qual a agência ainda passava”, comenta Gurgel do Amaral.

Portugal ficou à frente da Inova Unicamp por seis meses e deixou o cargo, de acordo com a obra “Unicamp, 50 anos – Uma história de inovação e empreendedorismo”, por motivos pessoais. Na sequência, o professor Roberto Lotufo, vindo da FEEC (Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação) da Unicamp, assumiu o comando do NIT.

EXEMPLO A SER SEGUIDO

À medida que as instituições de ciência e tecnologia tinham de se adequar ao novo modelo proposto pela Lei de Inovação, a Inova Unicamp serviu de modelo para essa transformação. “Passamos a ser uma referência para elas”, relembra Lotufo. “O próprio termo ‘Agência de Inovação’ indica isso. Muitos núcleos adotaram essa nomenclatura”, reforça.

O protagonismo era tamanho que, em 2007, foi criado o InovaNIT, um projeto da Inova Unicamp com financiamento da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), para capacitação de profissionais de instituições de ciência e tecnologia de todo o Brasil que estavam em processo de estruturação de seus Núcleos de Inovação Tecnológica. Entre 2007 e 2012, foram oferecidos 49 cursos para 965 participantes, provenientes de 312 instituições diferentes. “Esse foi um grande projeto, uma das grandes contribuições da Inova Unicamp”, destaca Maria Beatriz.

No que tange a colaboração regional, em 2010, a Agência de Inovação foi incumbida de fazer um grande diagnóstico sobre ciência e tecnologia na região administrativa de Campinas, que contempla 90 municípios, e que serviria de base futuramente para a instalação dos parques tecnológicos da região. “Foi um estudo denso, que até hoje é tomado como base e referência”, diz Gurgel do Amaral.

APRENDENDO COM OS BONS EXEMPLOS

Benchmark internacional sempre foi uma forte vertente na Agência de Inovação, desde a época em que seu projeto estava em processo de gestação e, principalmente, após a criação do Núcleo de Inovação Tecnológica. “MIT, Universidade da Califórnia, Universidade de Columbia, Cambridge, AUTM, entre outras instituições internacionais de renome, sempre foram exemplos para nós. Queríamos entender suas práticas e criar um vínculo com os grandes centros de inovação do mundo”, afirma Lotufo.

As interações com universidades do exterior permitiram cooperação em projetos, incentivo às startups e iniciativas empreendedoras da Universidade, visitas técnicas e capacitação de docentes, pesquisadores e funcionários.

PROJETOS DE IMPACTO

A costura de bons projetos de melhoria nas áreas de atuação da Inova Unicamp também foi determinante para que o Núcleo de Inovação Tecnológica pudesse avançar nessas áreas e contribuir de uma maneira mais ampla no ecossistema. “A estruturação dos processos de propriedade intelectual, a comunicação de invenção on-line, análise do potencial de inovação de tecnologias, a aproximação das empresas em workshops colaborativos e diversas outras experiências colaboraram para o fortalecimento da Inova. Já com quinze anos, passando por outras três gestões de reitoria, observamos que esse é um trabalho que só se aprimora e que tem sua estabilidade institucional”, avalia Lotufo.

INCENTIVO AO EMPREENDEDORISMO

O fato de ter associado às suas atividades a responsabilidade pela promoção e apoio ao empreendedorismo fez a Inova Unicamp assumir desde o início a gestão da Incamp (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp), uma iniciativa datada de 2001, dois anos antes da criação da agência.

Já em 2006, o grupo Unicamp Ventures, uma iniciativa nascida dos ex-alunos da Unicamp que se tornaram empreendedores, semeou o propósito de firmar um ecossistema empreendedor ao redor da universidade. Conjuntamente com a Agência de Inovação, várias atividades foram pensadas e disseminadas entre membros da comunidade interna e externa à Unicamp. Conhecidas hoje como empresas-filhas da Unicamp, elas já chegam a 485 empresas ativas no mercado, responsáveis por empregar mais de 28 mil pessoas. Faturam, juntas, mais de R$ 3 bilhões, de acordo com o último levantamento divulgado pela Inova. Desde 2017, a Inova Unicamp reconhece o Empreendedor do Ano, durante o Encontro Unicamp Ventures.

Em 2011, a Agência de Inovação lançava o Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica, uma competição de modelos de negócio para as patentes e softwares da universidade. “Esse é o projeto mais integrador da Agência de Inovação. Porque é um trabalho direcionado aos alunos, que integra inventores, empresas, mentores e incentiva a formação de empresas. São todas as atribuições da Inova combinadas”, avalia Lotufo.

Lotufo ficara à frente da Inova Unicamp até o ano de 2013, quando assume o cargo de diretor-executivo o professor Milton Mori, da FEQ (Faculdade de Engenharia Química) da Unicamp. Já em 2014, é lançado o Programa Inova Jovem, uma competição de empreendedorismo destinada, inicialmente, os colégios técnicos da Unicamp: Cotuca e Cotil. Anos mais tarde, a competição foi aberta também a alunos de ensino médio regular e conta com participantes de todo o Brasil. “Era importante incluir também os colégios técnicos e depois outras escolas para trabalharmos o empreendedorismo desde cedo”, afirma Mori.

PARQUE DE PORTAS ABERTAS

Ainda na gestão do professor Milton Mori, o Parque Científico e Tecnológico fez a revisão de sua deliberação, permitindo a partir de 2016 a entrada de startups. Até então, podiam se instalar na área apenas empresas que possuíssem projetos de P&D com a Unicamp. “Notávamos esse interesse nas startups, especialmente aquelas que completavam o processo de incubação na Incamp e não queriam se afastar do campi. A prova disso foi termos preenchido o Vértice da maneira que foi. Em pouco tempo, todos os espaços já estavam lotados. Uma ação dessa é benéfica para as empresas e para a Unicamp. São mais pessoas colaborando com o ecossistema, firmando parcerias e interagindo com a universidade”, afirma Mori.

“Foi uma decisão muito oportuna e assertiva. A presença de startups no Parque Científico e Tecnológico ajuda no desenvolvimento dessas empresas e na inserção delas no ecossistema”, completa Gurgel do Amaral.

FOCO NO ESTADO DE SAO PAULO

Uma das marcas da Agência de Inovação é nunca ter deixado de cooperar e compartilhar sua expertise. Em 2013, foi aprovado pelo CNPq o Projeto Inova Capacita, no valor de R$ 1,3 milhão, para apoio à implantação e capacitação dos Núcleos de Inovação Tecnológica do Estado de São Paulo. O projeto floresceu no escopo da Rede Inova São Paulo, que à época era coordenada pelo professor Milton Mori. Hoje, está sob o comando do professor Newton Frateschi, atual diretor-executivo da Agência de Inovação Inova Unicamp, que assumiu em 2017, vindo do Instituto de Física da universidade.

No escopo da Rede Inova São Paulo e no projeto Inova Capacita, foram mais de 346 profissionais de NITs capacitados, 21 cursos presenciais avançados realizados, seis cursos EAD disponíveis na plataforma on-line – que já formaram mais 4,1 mil pessoas –, seis seminários de boas práticas jurídicas feitos, um guia de boas práticas jurídicas com mais de 500 downloads no site, um livro de gestão de NITs com mais 1,6 mil acessos também no site, e o desenvolvimento de uma plataforma de competência, envolvendo as 37 Instituições de Ciência e Tecnologia, da Rede Inova São Paulo.

“Esse projeto foi um verdadeiro sucesso, porque demonstra a evolução dos NITs do Estado de São Paulo. Cada ação desse projeto é uma conquista muito importante para todos nós”, avalia o responsável pelo projeto, professor Milton Mori.

DE OLHO NO FUTURO

Trazendo na bagagem projetos bem-sucedidos, mas também vários aprendizados e desafios a serem superados, a Inova Unicamp se mantém firme na missão de promover a cultura de inovação e do empreendedorismo, com vistas a cooperar com o ecossistema e, principalmente, com a sociedade.

“A Inova Unicamp descola da estrutura tradicional de governança da Universidade, eu diria que ela é como uma startup – uma spin-off, mais precisamente – que está comprometida com as formas mais eficientes de promover o empreendedorismo e garantir a proteção e a transferência das tecnologias desenvolvidas na Unicamp, que é uma universidade de ponta, para benefício da sociedade”, avalia o atual diretor-executivo da Inova Unicamp, Newton Frateschi.

Com o Novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, novas fronteiras vão sendo descobertas, como a possibilidade da universidade ter participação nas empresas nascentes no âmbito da Unicamp. Há também a necessidade de criar um fundo patrimonial para a universidade.

“Isso tudo envolve a Agência de Inovação e faz crescer o escopo das atividades que já fazemos. Vale lembrar também que, no Novo Marco Legal da CT&I, todos os convênios de pesquisa devem, obrigatoriamente, passar pela Agência de Inovação. Isto garante as melhores práticas e os melhores resultados para todos”, afirma o diretor-executivo.

Com vistas ao futuro e já em implantação no presente, Frateschi tem como meta estabelecer formas sustentáveis de governança da Inova, garantir a disseminação de sua missão para a comunidade interna e buscar liderança nas relações com o ecossistema.

O professor Newton Frateschi, atual diretor-executivo da Agência de Inovação Inova Unicamp: estabelecer formas sustentáveis de governança é uma das metas

Compõe também a meta estabelecer o Parque Científico e Tecnológico da Unicamp como um lugar em que a Universidade, em cooperação com as empresas e startups, promova o desenvolvimento econômico e sustentável. Busca ainda uma aproximação maior do campus de Limeira e o de Piracicaba, como também da PRP (Pró-Reitoria de Pesquisa).

No caso da PRP, para identificar potenciais projetos dentro da Universidade que possam gerar novas tecnologias, se tornar empresas spin-offs, criadas a partir da pesquisa na universidade, e adicionalmente, auxiliar na sustentabilidade dos laboratórios das unidades, por meio de parcerias para utilização do maquinário da Universidade por empresas nascentes ou já estabelecidas.

Para Frateschi, na perspectiva futura, uma das prioridades é encontrar novas formas de fomentar o empreendedorismo de base tecnológica e olhar também uma nova fronteira: o empreendedorismo social. Em todos os casos, o diretor-executivo pretende aplicar métricas de avaliação para nortear os próximos passos.

“A Inova Unicamp conseguiu criar uma identidade própria, que ela mesma estabeleceu. Todo mundo vê a importância que ela tem. Uma estrutura sólida, que não fica sujeita a ondas, modismos ou questões políticas. A Inova tem um lastro que é impressionante. E podemos construir muito mais. Este é o desafio que encaramos”, finaliza Frateschi.