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14. Brasil é o país da região com o maior número de publicações sobre covid-19 em 2020 (2 notícias)

Publicado em 13 de dezembro de 2021

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Por Renata Fontanetto

Instituições públicas são responsáveis ??por grande parte da produção. Três agências de fomento foram as que mais investiram nas publicações

Em 2020, apenas quatro países respondiam por 60% da produção de artigos científicos sobre covid-19. Na América Latina, o Brasil foi o mais produtivo — mas ainda assim ficou longe das nações que mais publicaram.

Os dados são provenientes de artigo publicado nos Anais da Academia Brasileira de Ciências (ABC), que analisou a produção científica relacionada ao covid-19. Essa revisão contabilizou quase 61.000 artigos publicados entre 1 de janeiro e 13 de dezembro de 2020 e indexados na base de dados Web of Science (WoS). O objetivo foi fornecer uma visão geral do esforço coletivo científico global durante o primeiro ano da pandemia.

Da amostra, quase 60% dos artigos correspondem a trabalhos produzidos por pesquisadores dos Estados Unidos (cerca de 28%), China, Itália e Inglaterra (entre 10% e 12% cada). Além disso, destaca-se a contribuição de outros oito países — Índia, Canadá, Alemanha, Espanha, Austrália, Brasil, Irã e Turquia — que, somados aos outros quatro, representam 95% da produção científica mundial em 2020. Do Brasil, 2.582 artigos foram encontrados (cerca de 4% do total).

A revisão mostrou que as publicações se concentraram mais no segundo semestre de 2020 e que foram distribuídas em mais de 6.000 periódicos, com destaque para o grupo editorial Lancet, The British Medical Journal e o grupo Nature. Dos 15 artigos mais citados no mundo, nenhum era da América Latina.

Para Ana Cristina Simões e Silva, uma das autoras do estudo e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), existe uma relação entre a quantidade de artigos de cada país e o quanto cada um foi afetado pela pandemia, bem como a capacidade científica já instalada que permitiu a pronta resposta.

“Vimos que o Brasil, mesmo com todas as restrições orçamentárias para a ciência, alcançou uma produção destacada. Sim, existe uma elite científica, mas alguns países conseguem se classificar bem nesse grupo graças ao esforço dos pesquisadores e à dedicação deles”, afirmou, referindo-se a outros países emergentes da lista, como Índia, Irã e Turquia.

Os 2.582 artigos brasileiros enfocaram questões de saúde pública, medicina, organização do sistema de saúde, doenças infecciosas e abordagens multidisciplinares.

Em relação às instituições brasileiras, as seis primeiras, que correspondem a mais de 50% da produção nacional em 2020, são públicas: a Universidade de São Paulo (USP), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Isso reflete do que se trata a pesquisa no Brasil: ela vem de universidades públicas e se baseia em grande parte em investimentos de agências de fomento nacionais e estaduais”, explica Simões e Silva.

Três principais patrocinadores foram destacados no artigo: o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Pouco investimento ameaça a produção brasileira

Gonzalo Vecina Neto, professor da Escola de Saúde Pública da USP, não se surpreende com a posição do Brasil no ranking. Em sua opinião, houve um esforço fantástico por parte da comunidade científica brasileira. “Conseguiu sobreviver à má gestão deste governo e à falta de políticas públicas na área de ciência e tecnologia”, afirma, apontando que o desmantelamento dessas políticas vem ocorrendo desde o primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff em 2011. Para o pesquisador, a ciência brasileira não existiria sem instituições públicas e, portanto, o cenário de falta de investimentos é grave. “Grande parte do motor de pesquisa brasileiro se deve à pós-graduação, e a situação da Capes na gestão de bolsas para jovens pesquisadores é crítica”, afirma.

Nas ações do país relacionadas à covid-19, ele destaca duas conquistas: o sequenciamento do genoma do vírus causador da doença, realizado 48 horas após os primeiros casos confirmados no país, e a contribuição de estudos com vacinas.

Segundo artigo publicado nos Anais da ABC, havia “pouca literatura publicada sobre vacinas e ensaios clínicos em 2020, embora o Brasil se destaque internacionalmente pela produção de vacinas e programa de vacinação”.

Globalmente, o estudo aponta que, em 2020, os trabalhos acadêmicos sobre a covid-19 deslocaram outros temas que geralmente resultam em grande número de artigos, como obesidade (com 12.220 publicações indexadas no WoS) e hipertensão (10.120).

Relatar dados de pesquisa durante uma pandemia é essencial, mas os autores alertam contra pesquisas não confiáveis, que causam muitos danos.

* Tradução: Jornal da Ciência