Fóssil de 113 milhões de anos revela uma espécie alada com mandíbulas demoníacas preservada em calcário no Nordeste
Cientistas identificaram no Nordeste do Brasil os restos fossilizados da formiga mais antiga de que se tem notícia. Com asas e mandíbulas em forma de foice, o inseto viveu há cerca de 113 milhões de anos, durante a era dos dinossauros. O fóssil foi preservado em calcário da formação geológica do Crato.
A nova espécie foi batizada de Vulcanidris cratensis e integra uma linhagem extinta chamada formigas-do-inferno, nome inspirado nas suas mandíbulas de aparência demoníaca. Esse grupo prosperou em uma ampla área geográfica no período Cretáceo, mas não deixou descendentes vivos.
Anteriormente, outra formiga-do-inferno do Cretáceo já havia sido descoberta: a Haidomyrmex, batizada em referência a Hades, o deus grego do submundo.
Aspectos da Vulcanidris
• Tamanho: Aproximadamente 1,35 centímetro de comprimento
• Mandíbulas: Altamente especializadas, capazes de prender ou espetar presas
• Capacidade de voo: Possuía asas bem desenvolvidas
• Defesa: Equipava-se com um ferrão semelhante ao de uma vespa
De acordo com o entomologista Anderson Lepeco, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), principal autor do estudo publicado na revista Current Biology, um olho não treinado provavelmente confundiria a Vulcanidris com uma vespa.
“As mandíbulas se moviam para cima e para baixo, ao contrário da maioria das formigas atuais, cujas mandíbulas se articulam horizontalmente”, explicou Lepeco.
Importância evolutiva
Essa formiga é cerca de 13 milhões de anos mais antiga do que os registros anteriores de formigas, fósseis encontrados na França e em Mianmar preservados em âmbar.
Segundo Lepeco, a descoberta reforça a teoria de que as formigas surgiram muito antes do que se pensava: “De acordo com estimativas moleculares, as formigas se originaram entre 168 milhões e 120 milhões de anos atrás. Essa nova descoberta sustenta uma idade anterior dentro desses limites.”
As formigas teriam evoluído a partir de ancestrais semelhantes às vespas, com as vespas e abelhas sendo seus parentes vivos mais próximos.
Habitat do cretáceo
O ambiente da Vulcanidris cratensis era povoado por uma impressionante diversidade de vida, incluindo:
• Aranhas, milípedes e centopeias
• Crustáceos, tartarugas e crocodilos
• Pterossauros (répteis voadores)
• Pássaros primitivos e dinossauros como o Ubirajara jubatus
Os predadores naturais das formigas poderiam incluir sapos, pássaros, aranhas e outros insetos maiores.
Formigas hoje
Hoje, as formigas colonizaram praticamente todos os ambientes da Terra. Um estudo publicado em 2022 estimou que existam cerca de 20 quatrilhões de formigas em todo o mundo — um número muito superior à população humana de aproximadamente 8 bilhões.
“Elas são um dos grupos mais abundantes na maioria dos ambientes da Terra”, destacou Lepeco.
As funções ecológicas das formigas são essenciais:
• Predação e herbivoria
• Controle de populações de outros organismos
• Relações com plantas e insetos específicos
• Melhoria da saúde do solo
• Decomposição de matéria orgânica
“Elas têm papéis fundamentais nos ecossistemas em que vivem”, completou Lepeco.
Por Nicolas Uchoa