Estamos no início de 2023. Novos e importantes problemas nos serão apresentados ao longo deste novo ano e, certamente, muitos serão na área da Saúde. Quero, entretanto, falar um pouco deste desafio que assumi desde maio de 2021 com esta coluna semanal denominada “Letra de Médico”.
É muito difícil a um profissional de Saúde, com atividade acadêmica e gestora predominante e intensa assumir um compromisso de escrever todas as semanas artigos que possam ser de interesse de nossa comunidade seja ela profissional ou de nossa sociedade.
Pois bem, no dia 12/12/2022 fiz a centésima publicação para este jornal virtual Hora Campinas, sempre abordando temas de Saúde. Devo agradecer e muito a confiança da Editoria do Jornal pelo espaço, liberdade e confiança.
Na maioria das vezes, falei de questões assistenciais, mas procurei mesclar com temas de educação, pesquisa, inovação, política, etc. mas sempre em saúde. Em toda a minha vida procurei me dedicar a múltiplas atividades, cargos e funções públicas, mas sempre dentro da saúde.
Vivi intensamente minhas profissões de médico e professor universitário, procurando trazer sempre o que havia de melhor e mais significativo à melhoria da vida e do bem-estar de nossa população. Importante ressaltar que todos os artigos escritos estiveram dentro do período da maior crise sanitária deste século e, portanto, muitos deles foram dedicados exclusiva ou parcialmente ao enfrentamento e orientações da pandemia do SarsCov2 e da Covid-19.
Nunca havíamos vivido algo tão grave e tão devastador como esta pandemia. Convivemos com a tristeza, a insegurança, o luto e com as mudanças de rota como são habituais dentre os temas da biologia. Assistimos, por outro lado e com enorme satisfação, a ciência evoluir em várias direções e, talvez o mais relevante, disponibilizar as vacinas salvadoras em menos de um ano do início da pandemia. Nunca isto havia ocorrido anteriormente.
A vacina produzida com maior rapidez, até então, foi a da caxumba, em quatro anos. Outras informações científicas como as das medidas não farmacológicas como o distanciamento social e o uso de máscaras, trouxeram novas informações que contribuíram neste enfrentamento.
Novos fármacos obtidos por síntese química bem como imunobiológicos também trouxeram progressos importantes à redução da morbimortalidade da pandemia. Entretanto, assistimos, com tristeza, a proliferação de movimentos negacionistas e que trouxeram e, ainda trazem, dúvidas a população sobre o enfrentamento da crise através das propostas feitas pelos médicos, cientistas, profissionais e autoridades de saúde.
Sabemos que a ciência evolui, sabemos que as ciências da vida são as ciências das verdades temporárias e que tudo evolui e muda em algum momento futuro. Mas sempre estas mudanças são baseadas na ciência e suas melhores provas (também conhecido como evidências). Mas negar o estado-da-arte (o que a ciência propõe no momento da ação) é péssimo em todos os sentidos pois reduz a possibilidade de melhorar o prognóstico dos casos e de reduzir mortes e agravos secundários a esta pandemia ou de qualquer outra doença que esteja sendo enfrentada.
Temos hoje uma enorme preocupação com a reintrodução da poliomielite, o avanço do sarampo, da tuberculose, da sífilis materna e neonatal dentre muitas doenças infecciosas imune prevenidas. Ainda no campo das vacinas, mas agora ligadas à prevenção do câncer temos a vacina do HPV que pode eliminar o câncer de colo uterino e reduzir os tumores anorretais, de pênis dentre outros, no futuro. Esta vacina está amplamente disponível para todos os adolescentes.
Nestes artigos tentei enfatizar e apresentar ainda e com frequência, propostas para o enfrentamento do câncer, em várias modalidades e que pudessem aperfeiçoar nosso sistema e política para esta área que é crítica.
Certamente, o câncer é o maior problema de saúde pública após a pandemia. Já estamos vivendo um momento de grande apreensão pela nossa demanda reprimida que piorará o prognóstico dos pacientes.
Tenho tentado ainda abordar outros temas na saúde pública como a saúde mental, as novas possibilidades da saúde digital, a atenção primária da saúde, as doenças raras, as doenças hematológicas (malignas e benignas), etc.
Muito importante, é a constante discussão de fortalecimento do SUS, a política de saúde mais relevante das últimas décadas no Brasil e que mostrou seu valor absoluto durante a pandemia. Falamos da importância da ciência onde as universidades e a Fapesp são fundamentais. Falamos dos mecanismos formadores de profissionais de saúde a importância do multiprofissionalismo para a obtenção dos melhores resultados e indicadores de saúde, como, por exemplo, as residências médicas e multiprofissional.
Discutimos os projetos futuros para ampliar nossa capacidade de atender nossa população e reduzir nossas vulnerabilidades exibidas durante a pandemia como a necessidade de indústria da saúde forte e constantemente apoiada como o Instituto Butantan e a Fiocruz.
Enfim, tentei colocar e discutir pontos de relevo. Tentarei seguir nesta linha com ética e conteúdo em meus artigos.
Finalmente, desejamos muito sucesso aos governos que se iniciam e que deem a prioridades que nossos sistemas de saúde necessitam.
Carmino Antônio de Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020. Secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo em 2022.
Letra de Médico