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100 anos de Paulo Vanzolini, o cientista boêmio: exposição no Sesc Ipiranga apresenta trajetória multifacetada do zoólogo e compositor (10 notícias)

Publicado em 21 de agosto de 2024

No centenário de nascimento de Paulo Vanzolini (1924–2013), compositor brasileiro responsável por clássicos como Ronda e Volta Por Cima , o Sesc São Paulo apresenta uma imersão na vida do artista, revelando não apenas sua faceta musical, mas também a trajetória do zoólogo de renome internacional. A exposição 100 anos de Paulo Vanzolini , o cientista boêmio ocupa o Sesc Ipiranga a partir de 28 de agosto de 2024 e segue em cartaz até 16 de março de 2025. Idealizada pelos filhos do cientista, o diretor de arte e cineasta Toni Vanzolini e a psicóloga Maria Eugênia Vanzolini, a mostra conta com curadoria de Daniela Thomas, reconhecida cenógrafa, cineasta e diretora teatral. “A data simbólica do centenário de Paulo Emilio Vanzolini, nosso pai, nos motivou a pensar uma exposição que mostrasse um pouco da pluralidade desse brasileiro que ouviu, traduziu, pesquisou, escreveu, cantou e pensou um Brasil bom, diverso e inclusivo. Que sempre valorizou o conhecimento e a arte, fazendo de ambas seu maior legado. O universo desse personagem interessado e interessante, ‘cientista boêmio', como bem o definiu Antonio Candido, é o que queremos mostrar nessa exposição” , antecipa Toni Vanzolini.

Sem perder de vista o lado boêmio e artístico do homenageado, a exposição revisita as expedições científicas e as contribuições para a ciência empreendidas como herpetólogo, especializado no estudo de répteis e anfíbios. O Sesc Ipiranga como espaço para a exposição possui um simbolismo especial: a proximidade com o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP), onde Paulo Vanzolini trabalhou por cinco décadas – três destas, como diretor. “ Algumas figuras são incontornáveis na história de uma cidade, de um país. Algumas chegam a ser incontornáveis até no planeta. É o caso do nosso homenageado nessa exposição, Paulo Vanzolini, que completaria 100 anos este ano e que passou a maior parte da sua vida aqui do lado do Sesc Ipiranga, dirigindo o Museu de Zoologia da USP, sua casa – ou uma de suas casas, já que se sentia perfeitamente integrado à paisagem numa picada na floresta, no seu laboratório ou no boteco, entre músicos ou entre os maiores intelectuais da sua época”, destaca Daniela Thomas. “ Homem ímpar, de uma inteligência sobrenatural, uma inventividade que produziu versos inesquecíveis como ‘reconhece a queda e não desanima, levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima' e teorias revolucionárias na zoologia, e de uma determinação quase autoritária, características que fizeram dele essa potência realizadora que celebramos agora ”.

Em parceria com o Museu de Zoologia da USP, a exposição exibe ao público 51 exemplares conservados de espécies animais identificadas e catalogadas por Vanzolini. Esses espécimes, emprestados pelo Museu ao Sesc, estão em destaque em uma sala que recria um laboratório de zoologia.

Cinco salas temáticas revelam a trajetória multifacetada de Vanzolini, abrangendo mais de meio século de pesquisa. A exposição destaca suas célebres expedições amazônicas e as conexões entre arte e ciência que ele promoveu. Documentos, fotografias e vídeos oferecem um vislumbre dos bastidores das descobertas marcantes do ‘cientista boêmio', apelido carinhosamente atribuído por Antonio Cândido, sociólogo e crítico literário, no encarte do disco Acerto de Contas de Paulo Vanzolini (2002). Esta compilação apresenta 52 composições do cientista interpretadas por renomados artistas como Chico Buarque, Paulinho da Viola e Martinho da Vila.

A bordo do GARBE (barco) na Amazônia – Expedição Científica – década 60.

No percurso expositivo, ilustrações de Alice Tassara guiam os visitantes pela trajetória de Vanzolini em uma cronologia biográfica que destaca aspectos de sua formação acadêmica e seu círculo de amizades com intelectuais, artistas e ícones da música popular brasileira. O que encontrar na exposição 100 anos de Paulo Vanzolini, o cientista boêmio: confira a seguir detalhes sobre os espaços que compõem a exposição espalhados pelo Sesc Ipiranga.

Sala Laboratório | O espaço é uma reprodução de um laboratório que retrata o cotidiano do zoólogo, destacando as etapas dos processos de sistematização. Na mesa de trabalho estão dispostos instrumentos como microscópios, além de um painel que elucida aspectos da Teoria dos Refúgios. A sala também reúne as espécies emprestadas pelo Museu de Zoologia da USP, apresentadas em um painel com cubos giratórios que identificam e contextualizam cada uma delas. Ilustrações de Gabriela Dássio complementam o ambiente, enriquecendo a experiência visual dos visitantes.

Sala Expedição Amazônia | Uma instalação sonora e visual imersiva projetada para simular uma caminhada pela floresta amazônica, enriquecida pelas ilustrações de Danilo Zamboni, que capturam a riqueza da biodiversidade do bioma. A experiência busca dimensionar a grandiosidade da fauna e flora amazônicas. Nas paredes do ambiente, o visitante encontra uma variedade de informações detalhadas sobre a biodiversidade da região, dados preocupantes sobre desmatamento e uma reflexão sobre a importância crucial da Amazônia para o equilíbrio do planeta.

Sala A Bordo do Garbe

O espaço convida o público a mergulhar no universo de múltiplos interesses e aventuras de Vanzolini, entrelaçando ciência, arte e cultura. Aqui, o público pode embarcar em uma das viagens de Vanzolini à floresta amazônica a bordo do barco Garbe – parte da Expedição Permanente à Amazônia (EPA), projeto comandado pelo cientista durante duas décadas. Em 1975, esta expedição cruzou o Rio Madeira, de Manaus a Porto Velho. Entre os tripulantes do Garbe, estava o pernambucano José Cláudio da Silva, apresentado a Vanzolini por seu amigo Arnaldo Pedroso d'Horta, artista plástico e jornalista que também o acompanhou em expedições à Amazônia. No decorrer de dois meses de viagem, José Claudio retratou em cem telas a diversidade da fauna e flora amazônicas, bem como a vastidão dos rios e o dia a dia das comunidades ribeirinhas.

Reproduções desses trabalhos, que foram compilados no livro José Claudio da Silva: 100 telas, 60 dias & um diário de viagem – Amazonas, 1975 (Imprensa Oficial, 2009) e hoje integram os acervos do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual de São Paulo, são exibidas na sala. O ambiente também apresenta um extenso painel com o mapa do Rio Madeira, mostrando onde cada uma dessas obras foi criada e oferecendo ao público uma experiência imersiva, que permite ‘reviver' a expedição.

Sala Boêmia

Afeito à vida noturna, Vanzolini se desenvolveu enquanto compositor em mesas de bares e rodas de samba, criando um método peculiar de escrita musical. Apesar de não dominar nenhum instrumento, ele concebeu a estrutura da maioria de suas mais de 70 canções contando com o apoio dos amigos Adauto Santos e Luiz Carlos Paraná, violonistas e sócios no histórico bar Jogral, para dar forma às suas melodias e letras com harmonia e ritmo. Além dessas colaborações, Vanzolini deixou sua marca na música ao trabalhar com grandes nomes, como Waldir Azevedo, Elton Medeiros, Toquinho, Paulinho Nogueira e Eduardo Gudin.

Essa característica boêmia é reverenciada em uma sala que reproduz a atmosfera da vida noturna. Elementos expositivos incluem rótulos personalizados com nomes de suas composições mais célebres, que podem ser ouvidas pelos visitantes. A cenografia da sala, que conta com balcão, prateleiras e mesas de bar, também destaca os nomes de seus grandes colaboradores em azulejos. Ampliações fotográficas da cidade de São Paulo capturadas por Thomaz Farkas, entre outros, completam o ambiente proporcionando uma imersão visual e sonora na história musical de Vanzolini.

Expedições terrestres | O pesquisador encontrou nas expedições científicas do século XIX inspiração para suas próprias viagens de campo pelo Brasil, onde explorou a fauna e flora dos diversos biomas nacionais. Para ele, esses ambientes naturais eram seu verdadeiro local de trabalho. As viagens eram realizadas a bordo de uma Kombi, percorrendo territórios diversos. Como não dirigia, sua filha Mariana frequentemente assumia a direção ou então Francisca do Val, conhecida como Chica, que além de zoóloga, era ilustradora e documentava os trajetos cotidianos. Para revelar os bastidores dessas expedições, uma Kombi cenográfica será montada no acesso ao Sesc Ipiranga próximo ao Parque Independência e ao Museu do Ipiranga. Esta instalação reúne fotografias e diários, proporcionando aos visitantes uma imersão nas jornadas e descobertas de Vanzolini.

Sala Paulo por Paulo | Devido à sua intensa imersão na cultura e às suas inúmeras experiências, resultado das viagens por todo o Brasil, Vanzolini acumulava uma coleção de histórias e era um exímio contador de causos. Nesta sala, que reúne depoimentos em vídeo, frases emblemáticas e excertos de entrevistas documentadas ao longo de décadas, o público pode se aproximar de Vanzolini explorando seu legado pessoal e intelectual de forma envolvente.

Do Butantan para o mundo: sobre Paulo Vanzolini

Paulo Emílio Vanzolini nasceu em São Paulo em 25 de abril de 1924. Aos 10 anos de idade, em um passeio ao Instituto Butantan, encantado pelas cobras e lagartos, decidiu que dedicaria sua vida ao estudo dos répteis e anfíbios, na especialidade de herpetologia. Após formar-se em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP), em 1947, fez doutorado em Zoologia na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, entre 1949 e 1951.

Expedição terrestre de Paulo Vanzolini – sem identificação de data.

De volta ao Brasil, aplicou suas inovadoras visões no Museu de Zoologia da USP organizando conjuntos de animais conservados para pesquisa a partir de técnicas aprendidas em Harvard, tornando a coleção do museu paulistano uma das mais importantes dentro e fora do Brasil e aumentando o catálogo de Herpetologia da instituição de 1.200 para mais de 220 mil exemplares. Reflexo de sua imprescindível contribuição, 15 espécies animais foram nomeadas em sua homenagem, como o lagarto Vanzosaura savanicola e a serpente Lygophis vanzolini.

Ao papel de gestor, somou-se o de professor de pós-graduação da USP e o de cofundador da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Vanzolini ainda obteve reconhecimento internacional ao formular a Teoria dos Refúgios, uma hipótese para explicar a biodiversidade amazônica elaborada em meio a suas diversas expedições científicas e a partir de estudos realizados com o geomorfologista brasileiro Aziz Ab'Saber e em conjunto com o herpetólogo americano Ernest Williams.

Ao longo de mais de 20 anos, durante as décadas de 1960 e 1970, o cientista comandou a Expedição Permanente à Amazônia – EPA, realizada a bordo do barco Garbe e financiada pela FAPESP. Nestas empreitadas, Vanzolini estabeleceu colaborações que resultaram em contribuições significativas não apenas para a ciência, mas também para as artes visuais. Um exemplo é sua parceria com o pintor José Claudio da Silva, com quem compartilhou uma destas expedições, em 1975.

A proximidade com artistas plásticos estimulou colaborações instigantes. Como exemplo, o zoólogo escreveu textos para os livros de Gerda Brentani e convidou Aldemir Martins para ilustrar seu Tempos de Cabo , um relato breve de sua passagem pelo Exército na segunda metade da década de 1940, época em que, aos 21 anos, compôs seu clássico Ronda

Lançado pelo selo Fermata em 1967, o álbum de estreia de Vanzolini, Onze Sambas e Uma Capoeira , teve a capa assinada por Luís d'Horta. Pai de Luís, Arnaldo Pedroso d'Horta não só foi estopim para a criação da música Capoeira do Arnaldo , como se inspirou no trabalho de Vanzolini para produzir a série de gravuras Esqueletos de Animais . Essas conexões destacam como Vanzolini viveu uma vida profundamente entrelaçada com as artes e a cultura. Seus interesses e curiosidade se estendiam além de seu campo imediato, abrangendo diversas formas de expressão.

Paulo Vanzolini faleceu em 2013, três dias após completar 89 anos.

Serviço:

100 anos de Paulo Vanzolini, o cientista boêmio

Abertura em 28 de agosto, às 19h

Visitação : de 29 de agosto de 2024 a 16 de março de 2025 | terça a sexta, das 9h às 21h30; sábados, das 10h às 20h e, domingos e feriados, das 10h às 18h30

Recursos de acessibilidade: videolibras, audiodescrição, leitura ampliada e em braile, reproduções, mapa e pisos táteis e legendagem

Agendamento de grupos: agendamento.ipiranga@sescsp.org.br

Entrada gratuita e livre a todos os públicos.

SESC IPIRANGA

Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga, São Paulo, SP

Horário de funcionamento da unidade: terça a sexta, das 7h às 21h30; sábados, das 10h às 20h e, domingos e feriados, das 10h às 18h30

Para informações sobre outras programações, acesse o portal sescsp.org.br/ipiranga e acompanhe na rede social instagram.com/sescipiranga

(Fonte: Com João Jacques/ Baobá Comunicação, Cultura e Conteúdo)